PARTE DOIS: QUEM SÃO AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS

 



UMA CLASSE GANHANDO AS RUAS E ESPAÇO NA SOCIEDADE

Uma coisa é certa: Embora toda a tecnologia e ciência mundial tenha avanços surpreendentes nos últimos anos, nada tem conseguido que uma parte da população nasçam ou adquiram algum tipo de deficiência. E falar dessas pessoas já não é mais falar de um universo tão pequeno assim, ou como muitos pensam, insignificante. Os números provam isto. Veja, 45,6 milhões de brasileiros têm deficiências, divididas da seguinte forma: Deficiência visual 48,1%, Deficiência motora 22,9%, Deficiência física 4,1%, Deficiência mental permanente 8,3%, Deficiência auditiva 16,7%.

Essa quantidade de pessoas com deficiências passou a ter um peso significativo na sociedade. Pessoas que nas últimas décadas, não contentes com o isolamento social, resolveram colocar a cara na rua, visando conquistar o seu lugar no seio social. Presentes hoje em todos os segmentos, deixaram de ser os “coitadinhos” para ser um público consumidor, produtivo e, sabedor de onde realmente quer chegar, exigente de bons serviços.


Consequência disso, é que cada vez mais o contexto social está se vendo obrigado a promover e se adaptar à política da inclusão social para recebê-las. Por lei, o mercado de trabalho está reservando vagas em seus quadros de funcionários; as escolas e universidades públicas estão se reestruturando para que alunos com e sem deficiências dividam as mesmas classes de aula; pessoas com deficiências estão cada vez mais presentes nos lugares de lazer consumindo cultura e outros produtos: em espaços urbanos as barreiras arquitetônicas começaram ser eliminadas com a construção de rampas, telefones públicos, degraus e guias rebaixadas, construções de elevadores e muito mais; os empresários, atentos as novas tendências, estão criando serviços especializados às essas pessoas; até mesmo os órgãos de comunicação abrem cada vez mais espaço para essa temática.

Geralmente, associa-se a imagem de uma pessoa com deficiência como um ser “totalmente diferente”, “estranho” ou até mesmo “alvo de gozação”. É normal muitos referir-se a elas – ou as próprias pessoas com deficiência, sentirem-se – como seres “rejeitados”. Mas prefiro não enfocá-los desta forma, apontando-os como seres “desconhecidos”. O que falta na realidade, é um processo de convivência para que ambos – sociedade e pessoas com deficiência – se conheçam. Nasce aqui, a verdadeira importância de uma boa inclusão social. Mesmo com de algum tipo de limitação, essas pessoas devem participar do processo de inclusão, no seu sentido mais amplo, tendo acesso a oportunidades e condições adequadas ao desenvolvimento de suas potencialidades.

Na própria história mundial, há nomes que provaram ao mundo que a eficiência humana é muito maior do que qualquer deficiência. E eu poderia lhe citar milhares de exemplos! Mas prefiro apresentar à você as características peculiares de cada tipo de deficiência…

AS DEFICIÊNCIAS FÍSICAS

As deficiências físicas são diversas e ocorrem por vários motivos. Até alguns anos atrás, a causa maior no Brasil foi a Poliomielite – conhecida popularmente como Paralisia Infantil – por ocorrer nos primeiros anos de vida. Ela podia deixar a criança paraplégica (paralisia dos membros inferiores, usuários de cadeiras de rodas, como o Alex da nossa história), tetraplégica (paralisia dos quatro membros), ou de muletas (como o João) e outros equipamentos. Mas podemos ver com alegria, que a Poliomielite está erradicada do Brasil, graças a uma campanha maciça do governo nas últimas décadas. Daí então, a importância de vacinar nossos filhos corretamente.


Mesmo em cadeiras de rodas, com outros equipamentos ou amputações de membros, essas pessoas mantém uma vida normal social, profissional e amorosa. / Imagem Google

Há pessoas que têm os membros inferiores (as pernas) ou os superiores (os braços) amputados, como a Maria. Essas pessoas tanto podem nascer sem esses membros, quanto serem amputados por vários motivos (acidentes, doenças, dentre outros).

Existe outro grupo formado por pessoas com nanismo, conhecidos popularmente por anões. O nanismo origina de distúrbio do crescimento que provoca estatura anormalmente baixa. Afeta igualmente homens e mulheres em uma proporção de um caso para cada 12 mil nascimentos. A estatura dessas pessoas pode variar entre 85 cm e 1,45 m, mas a média é de 1,30 m. Há casos até menores de 85 cm. A meu ver, é a classe mais discriminadas dentre as pessoas com deficiência. Os anões sempre são alvos de gozações, piadas e brincadeiras de mau gosto ou a espetacularização do ridículo, principalmente na televisão. São pessoas talentosas, capazes de exercer qualquer atividades; mas culturalmente, a sociedade os veem só como palhaços para fazerem os outros riem.

Outro tipo de deficiência física é a Paralisia Cerebral, como no caso do nosso garçom Carlos. Embora o nome pareça sugerir, não significa a paralisação do cérebro. Ocorre que o cérebro não manda ordens corretas aos músculos do corpo. As principais características de uma pessoa com essa sequela são afetar o desempenho do andar, usar as mãos, equilibrar-se e falar, podendo ainda ter dificuldades sensoriais ou intelectuais, como ouvir, ver ou não perceber formas textuais de objetos, usar os tatos das mãos, ação de distâncias, de direita ou esquerda, de espaço, etc.; mas, geralmente a Paralisia Cerebral, só afeta a parte motora, permitindo-lhe uma inteligência normal à pessoa, cursando escolas comuns, conquistas e vitórias na vida.

As deficiências físicas podem ser genéticas ou adquiridas. Eu poderia ilustrar isto contando muitas histórias. Há crianças que na fase inicial de suas vidas, sofrem acidentes traumáticos, como por exemplo, o automobilístico. Ao saberem de sua realidade de que nunca mais terão uma vida idêntica à anterior, onde certas coisas serão excluídas, como correr, jogar bola, dentre outras brincadeiras, explodem dentro de seu íntimo, muitas ideias mirabolantes e violentas, como se toda a sociedade tenha que pagar pelo o que lhe aconteceu.

Serão anos de tratamentos – a chamada reabilitação -, sempre assistidos por profissionais que realmente as ame, ora dando-lhes todo o apoio, ora sacudindo-as para voltar a realidade. Até que um dia, elas se encontram na realidade, estando preparadas tanto física como psicologicamente para a vida. E em consequência disso, aprendem a amar e serem amadas.

Muitas que enfrentaram o desafio na infância, hoje são adultos equilibrados, trabalhando nas inúmeras profissões que escolheram. Mas há aquelas que por muitos motivos – dificuldades financeiras, morar em regiões se recursos, sem apoio familiar, dentre outras -, não serão reabilitadas. Ficam sentadas de longe, assistindo tudo acontecer sem poder participar. Porém, alegremente posso dizer que esse é um quadro que começa a mudar. A informática está entrando na vida das crianças e pessoas com deficiências e realizando coisas que eram consideradas até impossíveis.


Hoje com a ajuda da tecnologia Assistisvas ou Aplicativos específicos, alunos com deficiência podem exercer qualquer tarefa / Imagem Google

Dando um exemplo, cito um sistema especial de um computador que auxilia as pessoas em seus deveres domésticos até coisas simples, como escrever cartas. O micro, através de um sensor, é ligado com um sopro e prontamente aparece na tela uma relação de opções contidas no programa. No momento que alcançar a opção desejada, um longo sopro mostra ao computador que aquela é a tarefa a ser executada.

Telefones, aparelhos elétricos e outros equipamentos são ligados ao micro. Porém, movimentação de portas e cortinas (abrir e fechar) depende da instalação de um motor conectado ao sistema. O micro permite ainda tarefas como apagar e acender luzes e desligar aparelhos.

Outro exemplo de como a informática vem sendo importante na vida de pessoas com deficiências, existe outro sistema que permite que eles escrevam com um simples movimento dos olhos. Óculos especiais são ligados a um computador que mantém um visor com sistema de caracteres (letras, sinais e números) e um sensor que capta o menor movimento com os olhos, imprimindo a mensagem na tela. E assim eu poderia dar milhares de exemplo, pois novidades surgem todos os dias. E para as pessoas com deficiências visuais, já há inúmeros programas de computador sonorizados.

Até pouco tempo, as crianças e jovens com deficiências (congênita ou adquirida), por levarem uma vida com certas dificuldades para sua integração social, como brincadeiras de rua e outras atividades, desenvolviam a parte intelectual mais rápido do que as demais. Eram traços inevitáveis em seu desenvolvimento, à vontade de ser independente e dar vazão aos desejos de liberdade. Assim, muitos se tornavam rebeldes, rejeitando conselhos e querendo abandonar a casa paterna. Isso porque os lares dos pais eram considerados por eles, como obstáculos, principalmente durante a adolescência. Mas isto começou a mudar à medida que sua inclusão social aumenta a cada dia na sociedade.



QUANDO A DEFICIÊNCIA OCORRE NA ADOLESCÊNCIA

Este é um ponto que não posso deixar de contar para você, pois gostaria de lhe alertar sobre os perigos do início da adolescência…

A adolescência certamente é uma fase fascinante em nossas vidas. Nela temos mil planos, ideias revolucionárias, chocantes, vontade de reformar o universo, estudar, formar-se, constituir uma família, ter filhos, posição social, viagens, fama, fortuna, sonhos, utopias… Porém, se tudo isso for interrompido por aquisição de algum tipo de deficiência, torna-se inicialmente traumático e muitas vezes revoltante. A pessoa vê seus sonhos e utopias “destruídos” (pelo menos, por enquanto), dizem coisas como “a vida acabou para mim”, “era melhor ter morrido”, ou mesmo “agora não sirvo para mais nada”.


Não há limites que impeça pessoas com deficiência a se desenvolverem em qualquer área. / Imagem Google

Só para termos uma ideia, é praticamente no início da adolescência que mais se adquirem as deficiências. Um levantamento recente feito pela Clínica de Lesão Medular da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente) entre seus numerosos pacientes atendidos, apontou como causa das lesões medulares traumáticas dos pacientes com até 16 anos, 51,4% dos pacientes tiveram a medula lesada por meio de armas de fogo. Nesse universo, 73% dos pacientes são do sexo masculino e 59,6% estão na faixa entre 12 e 16 anos.

Em segundo lugar estão os acidentes automobilísticos (20%); em terceiro a queda de altura (15,7%); e em quarto o mergulho em águas rasas (14,3%). Cerca de 67% destes lesados medulares (paraplégicos e tetraplégicos) foram vítimas de algum tipo de acidente (trauma). O restante corresponde às lesões não-traumáticas, provocadas por algum tipo de doença. Por isso, nessa fase que você está é preciso tomar cuidado redobrado em suas atividades e diversões em grupo…!

Mas a reabilitação é preciso, embora muitas vezes difícil, pois toda a experiência, aventura e conhecimento acumulados até aquele momento, refere-se a sua vida anterior ao acidente. É como se a pessoa tivesse que passar uma borracha sobre tudo e começar, adaptando o seu cotidiano a sua nova realidade.

Há casos que, devido ao trauma de acidente e aquisição da deficiência, no íntimo da pessoa passa a explodir ideias violentas de vingança (principalmente se ainda for criança), como se toda a sociedade tivesse que pagar por sua tragédia. Mas isso sempre pode ser resolvido com um bom acompanhamento de um psicólogo. Aliás, sempre acreditei e defendi a importância de um bom acompanhamento psicológico não só para as pessoas com deficiência, mas para qualquer ser humano. Chega daquele velho mito que “psicólogo é coisa só para louco”. Louco hoje em dia, na conjuntura dos acontecimentos, é quem não tem um psicólogo.

A partir de um acompanhamento psicológico, a pessoa aprenderá a si conhecer e a lidar com suas limitações. Poderá se libertar de um bloqueio, ou até mesmo de um autopreconceito, permitindo-se descobrir as suas reais potencialidades. Não só para elas, mas para qualquer pessoa, tão importante ainda está a necessidade de recuperarmos a nossa autoestima, a vivência de sermos apropriados à vida e às exigências que o cotidiano nos coloca; desenvolver a confiança em nossa capacidade de pensar e encarar os desafios corriqueiros do dia-a-dia.

Darmos o direito de serem felizes, sabermos que cada um, independente de sua realidade, tem o seu valor, com direito de expressar nossas vontades, necessidades e desejos; sabendo que temos direito de desfrutar os resultados de todos os nossos esforços. Sonhar e ter ilusões são necessários e um direito que ninguém pode nos negar; mas caminhar com os pés na realidade é importante, pois uma vez que a autoestima resulta quase sempre de uma imagem que temos de nós mesmos, muitas vezes apagar essa imagem construindo ou buscando uma falsa pode gerar uma decepção, uma abstração por não autodesafiarmos nas coisas mais normais da vida.


Proposta de atividade:

1) Faça uma pesquisa em jornais, revistas, internet e outras publicações, recordando textos e/ou imagens sobre essas pessoas. Esses recortes serão usados em outra atividade na terceira parte deste livro.


Dicas de leitura:

Vou indicar para você dois livros interessantes para esclarecer o universo das pessoas com deficiência: “O que são pessoas deficientes” (Editora Brasiliense – Coleção Primeiros Passos) e “Viva a diferença! – Convivendo com nossas restrições ou deficiências” (Editora Moderna – Coleção Qual é o grilo?). Ambos foram escritos por João Baptista Cintra Ribas e tem uma linguagem bem legal, dirigida aos jovens.

Ou vá à biblioteca pública de sua escola e procure vários títulos sobre essa temática.

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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