8 - O BOM MALANDRO

 

Se me perguntarem qual o caminho para se transitar por várias áreas e ter uma produção grande e diversificada como a minha, responderei. O segredo é ser um Bom Malandro.

Existe uma diferença entre o Malando e o Bom Malando.

O Malando é o cara que quer se dar bem, só pensa em si mesmo e até prejudica os outros sem nenhum pudor para conseguir o que deseja ou aonde quer chegar.

Já o Bom Malandro jamais prejudica ninguém, não cobiça nada alheio. Pelo contrário, se ele puder, até ajuda ao seu próximo. Senão, ele fica quieto no canto dele, passando despercebido...

O Bom Malando é um cara observador, analítico e antenado ao mundo há sua volta, tem paciência de esperar os momentos certos e fazer as coisas acontecerem. Sempre que ver as oportunidades de se dar bem, entra de cabeça, não tem medo de arriscar na vida, buscar seus sonhos, consiga ou não.

E faz de suas derrotas análises para melhorar, corrigir os erros e tentar seus objetivos novamente. Assim, sinto-me um Bom Malando no sentido de não só produzir muito, mas também no sentido de sempre buscar ou abrir caminhos para os meus ideais acontecerem. A ginga do Bom Malandro está na minha genética, sou filho de carioca!

Muitas vezes me dedico a ajudar a abrir caminhos para tantas outras pessoas. Digo a quem eu gosto: “Qualquer coisa que precisar de minha parte, estarei lá no bar da esquina. É só assobiar que venho correndo!”

Amo quando posso ajudar a alguém sem pedir nada em troca. Amo fazer surpresa às pessoas que gosto, admiro. Amo se útil. Mas também amo ser esquecido em meu mundo particular quando não estão precisando de mim.

Adoro brincar dizendo que pertenço a uma raça que ainda irá dominar o mundo: os paralisados cerebrais. Isso porque, enquanto vocês estão nas baladas, bebendo pelos bares e coisas banais, nós pcs estamos “presos” em casa estudando, criando, desenvolvendo ideias revolucionárias, alongando o cérebro com as mais variadas áreas do conhecimento. E pelo estudo que venho acumulando e pela minha gingada de Bom Malandro, ainda serei o chefe da nação após esse processo de dominação!

Na verdade, pertenço ao alto escalão dos pcs legítimos... A grande maioria está por aí, espalhada pelo mundo.

Quantos “paralisados cerebrais” estão hoje pelo mundo presos em suas próprias individualidades, escravos dos bem materiais, querendo ter cada vez mais, acumular riquezas e status sociais, sem ao menos saber para que, vítimas de um círculo vicioso?

Quantos “paralisados cerebrais”, sem objetivos e iniciativas estão por aí, não vivem, são apenas vividos pela vida? Quantos “paralisados cerebrais” formam hoje uma juventude sem ideais e engajamentos políticos e sociais? Quantos “paralisados cerebrais” jovens estão problemáticos e covardes manifestam suas frustrações em atos violentos e de ódio ao próximo, enquanto os babacas em sua volta acham isso lindo e os têm como ídolos?

Quantos “paralisados cerebrais” pessoas inseguras, precisam se autoafirmarem, querendo controlar a vida das pessoas há sua volta, desrespeitando o direito de liberdade e pensamento? Quantos “paralisados cerebrais” querem impor suas opiniões como verdades absolutas nas redes sociais?

Quantos “paralisados cerebrais” em sua pior conotação, nós mesmos elegemos e mandamos à Brasília?

E poderiam ser tantos outros exemplos...

            Na verdade, eu nunca tive medo de mudar, experimentar, ariscar na vida. Para muitos isto não é fácil, naturalmente somos contaminados pela rotina, passamos a viver quase que mecanicamente. Vejo no meu dia a dia pessoas reclamando da realidade em que vivem, porém não fazem o menor movimento para alterá-la e modificá-la.

Temos sonhos, mas poucos têm coragem de persegui-los. Reclamar da vida e colocar a culpa nos outros por causa de nossa situação são formas consciente ou inconsciente de justificar as nossas “covardias” de ousar perante a vida! Einstein dizia que "loucura é fazer sempre as mesmas coisas e esperar por resultados diferentes".

Eu sei que não sou melhor que ninguém, mas faço parte de um grupo seleto de pessoas que têm essa coragem e, mesmo tendo tudo contra a sua realidade, não medem esforços. Buscam forças onde menos se espera, acham brechas em situações adversas e vão à busca de seus objetivos. Chegam aonde desejam ou até mais longe e, muitas vezes, são duramente criticadas pela inveja daquelas pessoas que se acovardam perante o ato de viver.

            Hoje vejo muitas pessoas amarguradas, que só se queixam, tem prazer em apontar os defeitos dos outros. A pessoa quanto mais infeliz, mais ela é crítica, fofoqueira e gostam de destruir as relações entre quem às cercam. Aliás, a inveja é um sentimento doentio, um declarar da incompetência de muitos, pois quem é bem-resolvido não cultiva inveja das outras pessoas. São humanistas e gostam de reaproximar as pessoas.

Mudar gera medo a qualquer um, significa sair de nossa zona de conforto e mergulhar, muitas vezes, rumo ao desconhecido. O conhecido já está em nossa mente, o desconhecido ainda não. Mudar pode ser o ato de abrir mão ou perder algo para se conquistar o novo.

Pode exigir uma caminhada sem estabilidade até atingirmos os objetivos de tais mudanças. Será onde precisaremos utilizar a nossa inteligência focal. Às vezes aquele não será o momento para atingirmos o que desejamos. Precisaremos apenas ter um comportamento flexível, mas focado para esperar o momento certo. Isso é diferente de pessoas que tem um comportamento volúvel e vai a todo instante para todos os lados sem nenhum foco na vida.

Levantar perante a vida para buscar mudanças é um ato de coragem. É algo que requer ou não planejamento. Pode realizar-se pelo simples ato de nos levantarmos da “poltrona do mesmismo” e nos colocarmos em movimento.

Movimento que eu sempre mantenho vivo em minha vida. Sonhar é a esperança transformando-se em objetivos que sempre me fizeram caminhar. Quando eu não tiver mais sonhos, será porque me tornei apenas uma lápide de cemitério!


E fim de papo!!!


Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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