Muita animação e expectativas por parte de todos. Porém, Marcelo estava apreensivo:
- Roseli ainda não chegou...
Respondeu José:
- Deve ter se atrasado. Só isso...
- Essa semana liguei para casa dela e fui informado que estava viajando.
- Vai ver que é verdade. - Disse Isaura no sentido de acalmá-lo.
Nesse momento, Tereza ordenou:
- Pessoal, vamos nos aprontar, que a próxima turma será a nossa.
Deixei-os nos bastidores e fui me sentar na plateia. Logo em seguida, o diretor da escola apresentou:
- Agora em nossa festa teremos um momento muito especial. Irá subir ao palco um grupo que aprendi a respeitar e admirar. E é com muito prazer que chamo a Sociedade Unidos por um Ideal.
Foram muito aplaudidos. O sucesso da peça foi igual ou até maior que a primeira apresentação. Tereza, mais uma vez, disse algumas palavras no final:
- Em primeiro lugar, gostaríamos de agradecer a mais essa oportunidade. Como todos sabem, estamos chegando ao final do ano. Na próxima semana iremos realizar a nossa festa de Natal lá no Centro. Em retribuição ao carinho de vocês, queremos convidá-los à participar. E mais uma vez, obrigada!
Um rapaz subiu ao palco, tomando a palavra:
- Nós é que temos que agradecer a participação de vocês. Ficamos contente com o convite e podem ter certeza que iremos. Agora, vamos ter um pequeno baile e queremos contar com a presença de vocês, pois a noite está apenas começando.
No momento que todos se preparavam para dançar, retirando as cadeiras da quadra, Rosemeire e Roberto se aproximaram da gente.
- Se vocês nos dão licença, temos uma festa para ir.
- Tudo bem. Divirtam-se... - Desejou Vânia.
Edson foi logo para a pista dançar. Eu o admirava só de olhar, ele pegava o passo rapidinho. José, pela primeira vez, saiu para um canto com uma menina para conversar. Mesmo sendo um papo sério, de vez em quando notávamos que ela dava risada. Ele e suas eternas piadas...
Tereza foi conversar com um rapaz que a paquerava. Outro rapazinho se aproximou de nossa mesa e dirigiu a palavra à Isaura:
- Você aceita dançar comigo?
- Quem é? - Perguntou ela sem saber.
E Marcelo respondeu:
- É um rapaz e está falando com você.
Vânia foi até o seu ouvido:
- Ele é um gato. Se eu fosse você, aceitaria.
- Sim, aceito... - Disse num sorriso.
O rapaz pegou em sua mão, conduzindo-a até a pista.
Lott procurou Márcia em nossa mesa e disse:
- Márcia, tenho algo a lhe contar.
- Então conta.
- Àquela pessoa que lhe falei no acampamento, veio. Ela aceitou dançar a próxima música comigo. Estou tão feliz...
- Fico feliz por você, Lott. Quero que saiba que lhe considero um grande amigo.
- Obrigado. Deixa-me ir até lá. Com licença...
Lott saiu. Celinha, percebendo algo diferente em seu rosto, perguntou-lhe:
- Posso saber o que houve, Márcia?
- Sim, descobri algo.
Ela olhou para todos nós na mesa e confessou-nos:
- Descobri que acabei de sair de uma grande fantasia. Antes de conhecer o Lott, morria de amores por ele. Depois que passamos a conviver, percebi o grande amigo que é e tudo aquilo não passou de uma ilusão.
Márcia, talvez, sustentava essa ilusão por não ter tido um contato maior com outras pessoas. Depois, quando ela passou a ter maior autonomia e mais diversões, começou a conhecer muitas pessoas interessantes e, quem sabe, com o tempo encontrará o seu verdadeiro amor... Porém, naquela noite, ela ainda tinha algo a dizer:
- Agora vou realizar o meu grande sonho.
- Você nunca nos disse que tinha um grande sonho. - Lembrou Celinha.
- Mas tenho. Vou estudar violão.
Em seguida, convidei Marcelo para ir tomar uma cervejinha.
- Roseli não veio.
- Vai ver que ela teve algum problema ou realmente viajou.
- Não, Vítor. Sei o que houve. Só que pode deixar, vou à luta!
- É isso aí, Marcelo. Lute pelo o que você quer. Mas vá com cuidado, tá?
- Pode deixar, eu me cuido.
A surpresa maior daquela noite, não aconteceu ali. Só na segunda-feira é que ficamos sabendo pela boca de Rosemeire:
- Sábado, na festa, o Roberto e eu confessamos que gostamos um do outro, e resolvemos namorar. É um sentimento que começou na época daqueles bailinhos, quando dançávamos juntos. Isso deve ter nascido com a nossa convivência.
Aquilo que ela acabara de dizer, tinha fundamento. A convivência é a maior maneira de inclusão social para as pessoas com deficiência. A partir do momento que ambos - sociedade e pessoas com deficiência - passaram a caminhar naturalmente juntos, muitos mitos serão quebrados. Acredito também que outra forma de conhecimento, é ter e/ou manter essas pessoas em nosso círculo de amizade. Tratando-os como os demais amigos, descobrimos inúmeras qualidades, potencialidades e com isso sumirá espontaneamente as diferenças provocadas pelas limitações. Será um mundo completando o outro.
Vânia perguntou-lhe:
- Será que dará certo, Rosemeire?
Nesse momento, ela deitou a cabeça no ombro de Roberto e nos respondeu:
- Não me importa a sua limitação. O lindo está em seu interior e as coisas belas dentro de sua alma. Temos uma boa relação e sentimos bem um ao lado do outro. Sei que a sociedade irá impor certos tipos de obstáculos e preconceitos que enfrentaremos juntos. Quem sabe isto servirá de exemplo para outras pessoas passarem a ver essas pessoas de outra maneira.
Nós, emocionados por suas francas palavras, aplaudimos.