- Gente, fui convidada a participar de um concurso de teatro, preciso montar um grupo.
Sugeri à ela:
- Por que não tenta montar um com o pessoal aqui.
- Até que não seria uma má ideia. Alguém aqui se interessa em participar?
- Posso tentar fazer algo... - Ofereceu-se Isaura.
Edson concordou em dançar, assim como Roberto confirmou sua participação. José pediu para ser comediante. Marcelo, novamente em depressão por causa de Roseli, não se manifestou. Porém a surpresa maior veio mesmo por parte de Márcia:
- Eu poderei tocar violão...
Pela primeira vez ela se ofereceu espontaneamente para participar de alguma atividade.
E Tereza lhe afirmou;
- Fico contente de você querer participar, Márcia. Agora precisamos escrever um texto encaixando cada um em seu papel e escolher um nome para o grupo.
- Na verdade será uma sociedade - disse eu.
José nesse momento, pensou alto:
- "Sociedade Unidos Por Um Ideal"...
- Taí, uma boa ideia. “Sociedade Unidos Por Um Ideal”. Gostei. Será um jeito de também mostrarmos o outro lado nosso, mostrar que também somos capazes. Vocês concordam? - Indagou Tereza, obtendo o apoio de todos.
* * *
No recreio, Márcia aproximou-se de Marcelo que conversava sobre futebol comigo, indagou-lhe:
- E aí, como foi ontem, Marcelo?
- Deu tudo errado, Márcia. O pai dela proibiu o namoro.
Ela se espantou;
- Mas como assim!?
- Acho que ele não quer que sua filha namore um "paralítico" assim como eu, droga!!!
- É por isso então que você está aí para baixo. Parece até mentira que exista este tipo de preconceito.
- Mas existe, Márcia. E você, quando vai cumprir nosso trato?
Ela abriu um sorriso:
- Será hoje... Quando ele passar no meu portão, à tarde, puxarei conversa.
- Tomara que você consiga, minha amiga. Desejo de coração...
- Boa sorte, Márcia! - Desejei, entrando na conversa.
-Obrigada, vocês realmente são dois grandes amigos.
Nesse momento, Tereza surgiu entrando na conversa:
- Posso falar com você, Marcelo?
- Sim, o que houve?
- Vou dar uma volta até o bebedouro. - Disse Márcia, saindo.
- É a respeito de Roseli... - Respondeu Tereza e me olhou sem jeito.
- Tudo bem, o Vítor está a par de toda a história. Pode falar.
- Encontrei-a ontem em um barzinho e como ela sabe que estudamos juntos, pediu-me que lhe trouxesse um recado. Ela precisa muito conversar com você.
- Não quero falar com Roseli! - Exclamou taxativo com certo ar de revolta.
- Pera aí, houve um mal-entendido entre vocês, segundo ela me disse e ela gostaria de se explicar.
- Não houve mal-entendido, Tereza. Ela deixou bem claro que pretendia cumprir a ordem do pai. Eu gostaria de não falar mais sobre isso, se você não se importa.
- Não, está tudo bem. Está dado o recado.
Ela me deu um sorriso e ia saindo, quando Marcelo chamou-a:
- Tereza...?
- Sim?
Virou-se para ele.
- A respeito do teatro, não me manifestei na classe, mas acho que poderei ajudar. Sem falar a ninguém, escrevo muito no silêncio de meu quarto. Posso escrever o roteiro, se você quiser, é claro...
- Lógico que quero, Marcelo. Seja bem-vindo a nossa Sociedade.
-Você me dá uma ajuda na gramática, Vítor?
- Claro, o que você precisar.
- Legal...
Hoje, acho que posso entender o que aconteceu com ele naquele momento. Marcelo sentiu uma necessidade de ser útil e mostrar superioridade. Seria uma grande maneira de provar a Roseli e seu pai que ele também era alguém, segundo sua intuição.
* * *
No dia seguinte, Márcia tinha uma coisa para contar ao Marcelo e a mim.
- Eu tentei ontem à tarde.
Empolguei-me em saber:
- E aí, como foi, conta!
- Me arrumei toda e fui para a varanda esperá-lo. Logo vi o rapaz vindo de longe, solitário, tinha ar de quem trabalhou o dia inteiro e só desejava chegar em casa e tomar um banho. Mas ao passar por mim, chamei-lhe:
- Moço...?
- Ele respondeu? - Quis saber Marcelo.
- Respondeu "sim", parou e levantou a cabeça gentilmente. Aí pude perceber seus detalhes. Ele é lindo, tem corpo de atleta, cabelo curto e preto. Jeito de quem tem toda a disposição para a vida. Foi quando eu apenas disse: "Nada não, você parecia alguém conhecido, mas me enganei, desculpe-me". Ele falou tudo bem. E continuou seu trajeto.
- Então você não tentou...? - Observou Marcelo meio desanimado.
E Márcia se autocondenou:
-Não. Droga, me faltou a coragem ou experiência para continuar. Sou mesmo uma anta.
- Não, Márcia, o importante é que você tentou. - Disse-lhe para acalmá-la. E Marcelo me ajudou:
- E outra, é muito difícil manter um diálogo com alguém que você só conhece de vista.
- Realmente, mais uma vez você tem razão. Fica prá próxima.
E nos deu um lindo sorriso!
Iniciaram-se os preparativos para a peça. Primeiro uma dúvida. O que escrever? E desse dia em diante minhas aulas se tornaram um verdadeiro estúdio.
- Podemos falar sobre a natureza. - Sugeriu Roberto, sendo desanimado por Márcia:
- Já deve haver outros grupos explorando esse tema.
- Que tal o amor? - Mais uma grande ideia de José.
- Também já deve ser temas de outros...
- Mas o amor nunca é demais, Isaura. Acho um bom tema. O que vocês acham? -Perguntou Tereza e todos concordaram.
Marcelo dirigiu uma pergunta à ela:
- Posso escrever como se fosse um romance?
- À vontade. Procure já escrever encaixando cada um no seu papel conforme suas habilidades... Agora, além de dirigir, eu também gostaria de participar.
- Você é quem manda, diretora.
E todos riram.