-Ah!, gente, estou com tanto medo... - Exclamou Tereza em um dos ensaios.
Roberto comentou:
- Mas você é a única profissional do grupo, por isso deveria ser mais confiante.
- Por isso mesmo, estou com medo de perder cartaz para vocês - e deu uma risada de gozação. - Bem, amanhã vamos fazer um ensaio geral. Quero todos muito disposto e com o texto na ponta da língua.
* * *
Enfim, chegou o dia da apresentação. Todos do Centro, as famílias e amigos fomos assistir. Vários grupos se apresentaram antes, pois as peças não poderiam ser longas. Porém a emoção maior para nós foi quando eles foram anunciados. Não pelo fato deles estarem competindo, mas pela participação.
Isaura entrou e foi até o centro do palco. Num suspiro exclamou:
- Amor, ah!, como é bom amar!!! Até a natureza fica mais bela!
- Deixe de sonhar e vá arrumar seu quarto, menina... - Ordenou Tereza entrando com sua bengala.
-Já irei mãe...
Tereza saiu pelo outro lado. José entrou com o seu jeito cômico:
- Ser ou não ser... Esqueci o resto, droga. Ah! mas tanta gente já repetiu essa frase que até o Sheakespeare já resolveu se decidir.
- Oh! é ele!, o meu amado... - Alegrou-se Isaura.
- Então é você que está aí, minha musa amada?
- Sim, sou eu e trago uma poesia para declamar a você.
Márcia se posicionou no fundo do palco e fez um solo de violão para Isaura recitar:
Nos momentos de solidão,
perco-me no silêncio de meu quarto
e deixo a tristeza falar mais alto.
A conquista é tanta
que te busco em pensamento.
Na ânsia de te encontrar
pronto para me amar!
Procuro palavras,
busco alívio para o meu sofrer,
quero me afastar,
mas como... Se te Amo tanto!
- Oh!, que lindo meu bem - e abraçou as pernas de Isaura. - Vejo pássaros dançando. É como se alguém dançasse dentro de mim.
Márcia passou a tocar uma melodia clássica. Entrou Edson, para dançar em volta deles. Parecia um bailarino dominando todas as técnicas tornando-se o centro da cena. Ao terminar, saiu.
Tereza entrando, indagou brava:
- O que significa isso?
- Sujou... - Disse José com cara de gozação, largando Isaura.
Ela por sua vez, respondeu sem jeito:
- Mãe, gostaria de apresentar meu namorado...
Entrou Roberto. Tereza foi até ele.
- Veja, meu bem, nossa filha arrumou um namorado.
- Isso aí? - Roberto apontou José e deu uma risada.
O mesmo retrucou:
- Ora, meu chapa, se tamanho fosse documento, o elefante seria o dono do circo...
A plateia riu. Tereza expressou com um ar de nervosa:
- Isso não é hora de piada. Exijo que você faça algo para acabar com esse namoro!!!
- Meu bem, você não sabe que é proibido bater em criança?
Muitas gargalhadas.
- Ora você me paga...!
Ela se retirou revoltada.
- Quero que seja feliz, minha filha. O amor é lindo, mesmo se for nânico...- Roberto saiu rindo.
José gritou:
- Essa vai ter troco.
Isaura lhe disse meigamente:
- Deixe, meu amor. O que importa é que estamos juntos novamente.
Se abraçaram. Aplausos. Tereza voltou ao palco e se dirigiu à plateia:
- Agora gostaria de apresentar nosso grupo. A música é a Márcia, o bailarino é o Edson, a garota é a Isaura, o rapaz é o José, meu parceiro no palco foi o Roberto e eu sou a Tereza. Gostaria ainda de chamar para que se ajunte a nós aqui no palco nosso colega e autor da peça, o Marcelo. Nós formamos o grupo teatral “Sociedade Unidos Por Um Ideal”. Muito obrigada.
Foram aplaudidos de pé. Mesmo não sendo vencedores do concurso, alegraram-se pela participação.
Havia algumas surpresas nos bastidores. Enquanto comemoravam, um rapaz se aproximou de Márcia e disse-lhe:
- Você toca bem violão. Poderia até me dar algumas aulas.
Márcia o reconheceu imediatamente. Segundo ela, era o rapaz que sempre passava em frente a sua casa e por quem sustentava um amor platônico.
- Obrigada, mas não sei ensinar.
- Mesmo assim, gostaria de vê-la tocar mais vezes. Quem sabe eu não aprendo só de olhar.
- Tudo bem, quando você quiser.
- No próximo fim de semana. Posso ir a sua casa.
E Márcia respondeu com um belo sorriso;
- Sim, será um prazer para mim...!
Alguém também se aproximou de Marcelo:
- Achei lindo... Não sabia que você escrevia tão bem, Marcelo...
- Obrigado, Roseli. - Respondeu seco por educação.
- Podemos conversar um pouco?
- Não temos mais nada para conversar.
-Por favor, Marcelo. Ouça o que tenho a lhe dizer. Será muito importante será para você...
- Tudo bem, vamos...
E se isolaram do grupo. Como eu acompanhava o caso deles desde o início, dando o maior apoio, Marcelo me contou mais tarde como foi o papo. Segundo ele, a conversa foi mais ou menos assim. Roseli começou dizendo-lhe:
- Sabe, não estou conseguindo esquecer você. É um sentimento muito forte, como nunca senti por ninguém.
Ele retrucou:
- Do que adianta isso agora?
- Droga, você poderia ser um pouco menos duro...
Foi quando começou a correr suas lágrimas.
- Também está sendo duro para mim, mas que adianta? Seu pai não aceita o nosso namoro.
- Para tudo há uma saída. Nós poderíamos namorar escondidos, talvez. Seria uma maneira de ficarmos juntos.
Marcelo deu uma risada:
- E você acha que me sentiria como, sabendo que tenho que namorar uma menina escondido, só por que seu pai não aceita minha condição, a minha realidade!?
- Eu sei que é difícil para você. O importante é ficarmos juntos...
- Não desse jeito, Roseli. Já que seu pai não aceita, é melhor assim. Evitaremos sofrimento no fim. É melhor cairmos agora do terceiro andar, do que cair depois das nuvens...
- Essa é a sua palavra final?
- É...
- Então tudo bem, Marcelo.
Roseli abaixou a cabeça e, virando-se, começou a andar em direção à porta para sair do teatro. Ele olhando deu um grito:
- Roseli, por favor, volte...
Nós que comemorávamos, paramos num profundo silêncio e ouvimos:
- Que foi Marcelo? - Perguntou Roseli ao se aproximar outra vez.
- Posso te pedir um beijo?
- De despedida?
- Não. Me desculpe tudo que lhe disse. Quero ficar junto com você, seja como for. Te amo, gata...
Roseli sentou no seu colo na cadeira de rodas, abraçando-a e começaram a se beijar. Nós, motivados por aquelas palavras e cena, formamos uma roda em volta e batemos palmas.