PARTE QUATRO: AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA GANHAM ESPAÇO NA RUA E EM NOSSA ESCOLA

 


DA ESCOLA ESPECIAL À ESCOLA INCLUSIVA

Durante muito tempo, essas pessoas eram educadas na filosofia chamada Educação Especial, ministrada em vários locais; em escolas residenciais, em hospitais, em casa, em internatos, em escolas especiais, classes especiais, em salas de recursos adequados, pensionatos para alunos externos ou através de planos coorporativos e em Classes Especiais; essa última era (ou ainda é) mantida em escolas comuns (estaduais e municipais), atendendo crianças classificadas nas categorias de suas deficiências. Hoje essas Classes servem de auxílio, onde o aluno frequenta meio período na classe comum e meio na Classe de Apoio.

Durante muitos anos o conceito de Educação Especial teve uma forte aceitação em nosso país. Era chamado de modelo educacional-médico. Ou seja, instituições que mantinham equipes multidisciplinar, tendo como meta habilitar as pessoas que nasciam com algum tipo de deficiência, ou reabilitar aquelas que, ao longo de sua vida, viesse adquirir alguma deficiência, seja por meio de doenças, acidentes, dentre outros. Eram os profissionais que preparam essas pessoas para depois integrá-las à sociedade. E com muitos resultados positivos. Mas fato concreto é que nas últimas duas décadas esse quadro começou a mudar, pois percebeu-se que grande parte dos alunos com deficiência não precisavam necessariamente desse tipo de educação, podendo estar perfeitamente em escolas de ensino normal. A partir daí, passou-se a buscar alternativas para que isso acontecesse, surgindo o conceito da Educação Inclusiva.

Posso dizer que isso é o reflexo de uma mudança de visão histórica. Essas pessoas ficaram por muito tempo escondidas do convívio social. Até que algumas décadas atrás, nasceu o conceito de integração social. Surgiram, por exemplo, entidades, centros de reabilitação, clubes sociais especiais, associações desportivas, todas dedicadas a essas pessoas com deficiência. As intenções principais delas, era preparar essas pessoas para ingressar e conviver em sociedade com todos.

Só que há pouco tempo um novo conceito surgiu: a inclusão social. Antes eram habilitados ou reabilitados para fazer todas as coisas que fazemos e, através da integração social, passavam a conviver com nós em sociedade. Agora, na inclusão social, as iniciativas são da sociedade. São as pessoas sem deficiências que estão se preparando, criando caminhos e permitindo que as demais venham conviver com todos. Por este motivo, cada vez mais vemos crianças e pessoas com necessidades especiais em nossas escolas, nos lazeres e em todos os lugares da vida diária. E devemos estar preparados para essa convivência, aceitando as diferenças e a individualidade de cada pessoa, uma vez que o conceito de inclusão mantém este lema: Todas as pessoas têm o mesmo valor.

E, segundo o Programa da Organização das Nações Unidas em Deficiências Severas, publicado em 1994, esse fato poderá trazer benefícios para todos, como por exemplo: Desenvolvem a apreciação pela diversidade individual e da variação natural das capacidades humanas; Demonstram crescente responsabilidade e crescente aprendizagem através do ensino entre os alunos; estar melhor preparados para a vida adulta em uma sociedade diversificada através da educação em salas de aula diversificadas. Sem se falar ainda rica troca de experiências pessoais!


AS BARREIRAS ARQUITETÔNICAS

Talvez, uma das principais dificuldades que poderá aparecer na inclusão de pessoas com deficiência em nossa escola, sejam as barreiras arquitetônicas. Elas podem ser tanto ambientais (naturais ou resultantes de implantações arquitetônicas e urbanísticas), quanto urbanas edifícios com garagens em desnível ou no subsolo, sem acesso por elevador, edificações com um único acesso em desnível, pavimentos em desnível com um único elevador, ausência de rampas de acesso, vagas de garagens ou de estacionamento inadequadas ou com acesso inadequado, banheiros, cozinhas e corredores muito estreitos e algumas áreas de uso comum totalmente inacessíveis.


É preciso a eliminação de todas as barreiras arquitetônicas para que essas pessoas tenham acesso a todos locais e ambientes / Imagem Google

Também existem nas ruas de nossa cidade.  Travessias sem sinalização, com as guias de meio-fios sem rebaixo, com as ruas, avenidas e calçadas com pavimentação irregular e até com alguns casos sem a possibilidade de se tornarem um caminho, que possa um dia ser utilizado como rota segura para acesso.

Essa é uma das atenções que precisamos começar a olhar a partir de agora. Prover a acessibilidade para todos, significa a eliminação das barreiras arquitetônicas urbanísticas, da edificação, do transporte coletivo adaptado e da comunicação. É gerar condições que permitam a qualquer pessoa a sua utilização com autonomia e segurança. E essas adaptações não beneficiarão somente as pessoas com deficiências, mas também outros segmentos como as crianças, as pessoas idosas, etc.



DICAS PARA UM BOM RELACIONAMENTO

Certamente, você, como grande parte da população, possa achar que é difícil se relacionar com uma pessoa que tenha algum tipo de deficiência. Mas posso lhe dar algumas dicas que são mundialmente divulgadas. Só que, independente dessas dicas, em todas as circunstancias, basta agir com essas pessoas com a mesma naturalidade de se relacionar com outra pessoa qualquer.


PESSOA QUE USA CADEIRA DE RODAS

No caso de pessoas como o Alex de nossa história, não segure nem toque na cadeira de rodas. Ela é como que fosse parte do corpo da pessoa. Apoiar-se ou encostar-se na cadeira é o mesmo que apoiar-se ou encostar-se na pessoa. Se você desejar, ofereça ajuda, mas não insista, pois isso poderá, às vezes, causar insegurança. Se um usuário de cadeira de rodas precisar de auxílio, ele(a) aceitará seu oferecimento e lhe dirá o que fazer.

Quando você estiver dialogando com uma dessas pessoas, não tenha receio de usar palavras como “caminhar” ou “correr”. Elas também as usam. Aliás, essas pessoas também são chamadas carinhosamente de cadeirantes. Se a conversa durar mais que alguns minutos, se possível, sente-se de modo a ficar no mesmo nível do seu olhar. Para uma pessoa sentada não é confortável ficar olhando para cima durante um período relativamente longo.

Imagine que você e uma pessoa cadeirante resolvam sair juntos. Prestem atenção para eventuais barreiras arquitetônicas, ao escolherem um restaurante, uma casa, um teatro ou outro lugar que visitarem.

Quando você sair de carro com seus pais, vigie e nunca permita que eles ou outra pessoa estacione o seu automóvel em lugares reservados às pessoas com deficiências físicas, pois elas também dirigem carros adaptados. Essas vagas, que vemos em mercados, escolas, shoppings e outros lugares públicos são reservadas por necessidade e não por conveniência. O espaço reservado é mais largo que o usual, a fim de permitir que a cadeira de rodas fique ao lado de automóvel, permitindo ao usuário sair de seu carro e sentar-se na cadeira e vice-versa; além disso, o lugar reservado é próximo à entrada de prédios para facilitar o acesso dessas pessoas.

Ao ajudá-la a descer uma rampa inclinada, ou degraus altos, é preferível usar a “marcha ré”, para evitar que, pela excessiva inclinação, a pessoa perca o equilíbrio e possa cair para frente.


PESSOA QUE USA DE MULETAS

Ao caminhar com uma pessoa igual ao João, usuário de muletas, acompanhe o ritmo de sua marcha. Tome cuidados necessários para que essas pessoas não tropecem. E deixe as muletas sempre ao alcance de suas mãos.


PESSOA COM DEFICIÊNCIA VISUAL 

Se você conhece ou encontre uma pessoa igual a Aninha, ofereça sua ajuda sempre que um(a) cego(a) parecer necessitar. Mas lembre-se: não ajude sem que ele(a) concorde. Sempre pergunte antes de agir. Se você não souber em que e como ajudar, peça explicações de como fazê-lo.

Para guiá-la você deve deixar que ela segure em seu braço, de preferência no cotovelo ou no ombro. Nunca a pegue pelo braço; além de perigoso, isso pode assustá-la. À medida que encontrar degraus, meios fios e outros obstáculos, vá orientando-a.


Pessoas cegas com sus bengalas ou cães-guia podem ir a qualquer lugar! / Imagem Google

Se vocês estiverem, ou forem passar em lugares muito estreitos para duas pessoas caminharem lado a lado, coloque seu braço para trás de modo que a pessoa com deficiência visual possa lhe seguir. Ao sair de uma sala ou outro ambiente que estiverem, informe-a de sua saída; isso para evitar algo desagradável, como por exemplo, a pessoa falar sozinha. Estando com essas pessoas não evite palavras como “cego”, “olhar” ou “ver”, pois elas também as usam.

Ao explicar direções para elas, seja o mais claro e específico possível. Não se esqueça de indicar os obstáculos que existem no caminho que ela vai seguir. Ocorre também que algumas pessoas cegas não tenha memória visual.  Por isso, não se esqueça de indicar as distâncias em metros (por exemplo, “uns vinte metros para frente”). Mas se você não sabe corretamente como direcioná-la, diga algo como “eu gostaria de lhe ajudar, mas como é que devo descrever as coisa?” Ela lhe dirá.

Ao guiá-la para uma cadeira, guie a sua mão para o encosto, informe se a cadeira tem braços ou não. Em um restaurante, é de boa educação que você leia o cardápio e os preços.

Lembre-se: Uma pessoa cega é como você, só que não enxerga; trate-a com o mesmo respeito que você trata uma pessoa que enxerga. Quando você tiver em contato social ou trabalhando com pessoas com deficiência visual, não pense que a cegueira possa vir a ser problema e, por isso, nunca as exclua de participar plenamente, nem procure minimizar tal participação. Deixe que decidam como participar. Proporcione à ela a chance de ter sucesso ou de falhar, tal como qualquer outra pessoa. Quando são pessoas com visão subnormal (alguém com sérias dificuldades visuais), proceda com o mesmo respeito, perguntando-lhe se precisa de ajuda, quando notar que ela está em dificuldade.


PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA

Quando você estiver junto a uma pessoa com deficiência auditiva (pessoa surda), igual ao Jonas, fale claramente, distinguindo palavra por palavra, mas não exagere. Mantenha uma velocidade normal, salvo quando a pessoa lhe pedir para falar mais devagar. Cuide sempre para que essa pessoa enxergue sua boca. A leitura dos lábios fica impossível se você gesticula, segura alguma coisa na frente dos seus próprios lábios, ou fica contra luz. Use um tom normal de voz, a não ser que lhe peçam para levantar a voz. Lembre-se: gritar nunca adianta.

A expressividade também é importante. Como muitas das pessoas com deficiência auditiva não podem ouvir, as mudanças sutis do tom de voz indicando sarcarmos ou seriedade, a maioria delas “lerão” suas expressões faciais, seus gestos ou os movimentos de seu corpo para entender o que você quer comunicar. Se você quer falar a uma pessoa surda, chame a atenção dela, seja sinalizando com a mão ou tocando no seu braço. (Nesse caso não é errado, igual no caso de que não se deve tocar na cadeira de rodas de um cadeirante.) Enquanto estiverem conversando, mantenha contato visual; se você olhar para outro lado enquanto está conversando, a pessoa pode pensar que a conversa terminou.

Se você tiver dificuldades para entender o que uma pessoa surda está falando, sinta-se à vontade para pedir que ela repita o que falou. Se você ainda não entender, peça-lhe para escrever. O que interessa é comunicar-se com a pessoa surda. O método não é o que importa.

Mesmo que ela estiver acompanhada por um intérprete, fale diretamente á pessoa surda, não ao intérprete.


PESSOA COM PARALISIA CEREBRAL

Lembra-se do garçom da nossa história, o Carlos? Ele é uma pessoa com paralisia cerebral. Essas pessoas podem andar com dificuldade ou não andar, pode ter problemas de fala. Seus movimentos podem ser estranhos ou descontrolados. Podem involuntariamente apresentar gestos faciais incomuns, sob a forma de caretas. Geralmente, porém, trata-se de uma pessoa inteligente e sempre muito sensível – ela conhece e compreende a sua limitação.


Alunos com e sem qualquer tipo de deficiência podem conviverem naturalmente, aprenderem juntos e construírem grandes amizades! / Imagem Google

Para ajudá-la, não a trate bruscamente. Adapte-se ao seu ritmo. Se não compreender o que ela diz, peça-lhe que repita: Ela o compreenderá. Não se deixe impressionar pelo seu aspecto. Aja de forma natural… Sorria, pois é uma pessoa igual a você.


QUAIS AS PALAVRAS CERTAS QUE DEVEMOS USAR AO NOS REFERIR A ELAS

Uma das áreas em que todos encontram mais dificuldades, é com relação às palavras corretas e seu real significado para se referir às pessoas com deficiência. Não parece, mas por trás dessas palavras podem estar verdadeiras armadilhas que, mesmo sem sabermos, podem reforçar preconceitos e estereótipos. Infelizmente, muitos termos ainda são utilizados de formas discriminatórias e sem qualquer tipo de preocupação em nossos dias. Termos como aleijados, chumbados, mutilados, paralíticos, paralisados, defeituosos, inválidos, incapacitados, mongóis. mongolóides, excepcionais, retardados surdos-mudos, mudinhos, anormais, débeis, inválidos, ceguinhos” e tantos outros, sem qualquer tipo de preocupação com o seu emprego ortográfico ou em conversas cotidiana.

Outro ponto que preciso destacar, é com relação ao uso discriminado da expressão pessoas normais. Isso é totalmente errado!!! Não existem pessoas normais e pessoas não-normais. Todos nesse mundo somos iguais, ou seja, todo mundo é pessoa, independente de qualquer diferença de cor, sexo, nacionalidade, formação cultural ou de portar ou não uma deficiência.

Parece coisa simples, mas são cuidados que precisamos tomar. Há quem acredite e até diga que não são tão importantes os termos usados para se referir às pessoas com deficiências. Isso não passa de um certo comodismo, pois quem quer mudar algo, ou lutar por uma nova reforma social (a inclusão da pessoa com deficiência, por exemplo), não pode abrir mão de nenhum detalhe, por mais simples que ela possa parecer. Às vezes, usamos termos que todos usam, mas, sem sabermos, reforçamos preconceitos. As palavras são expressões verbais criadas a partir de uma imagem que a nossa mente constrói.

Qual seria então o termo correto para ser usado?

Seguindo as recomendações da Organização das Nações Unidas (a ONU), é o termo PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, o qual preferi usar neste livro. Segundo a ONU, esse termo “caracteriza que a deficiência ESTÁ NA PESSOA, mas não é A PESSOA. A abordagem que reduz a pessoa à sua deficiência gera e reforça o preconceito”. E este termo pode ser utilizado de maneira geral para todos que tenham algum tipo de deficiência. Lembra-se, a Aninha já falou sobre isto na Conversa de Cantina.



Há também outras duas palavras que podem oferecer dúvidas: habilitar e reabilitar. Mas a diferença é simples. A primeira deverá ser usada quando alguém nasce ou adquiri uma deficiência nos primeiros momentos da vida: ela terá que receber um tratamento ou treinamento, as vezes com algumas adaptações, para mesmo com sua limitação poder fazer as coisas comuns que todos fazem e ter uma educação adequada com sua capacidade. Já a reabilitação, ocorre quando uma pessoa adquiri a deficiência ao decorrer de sua vida, como por exemplo, em acidentes automobilístico. Essa pessoa terá um tratamento, treinamento e adaptações para poder voltar a fazer, de acordo com a sua nova realidade, as coisas que faziam antes; algumas vezes parecerá que ela terá que esquecer o que aprendeu até ali para começar aprender tudo outra vez. Por isso, a reabilitação implica, dentre outros aspectos, trabalhar tanto a parte física, como psicológica e social da pessoa.

E por fim, vamos conhecer a diferença das expressões “associação para pessoas com deficiência” e “associação de pessoas com deficiência”. A diferença também é simples; a primeira refere-se a entidades e instituições criadas por pessoas e profissionais para oferecer tratamentos e educação especializa àqueles que dela necessitam. Já a segunda, refere-se às organizações criadas e derivadas pelas próprias pessoas com deficiência, visando, entre outras coisas, lutarem pelos seus direitos e oferecer melhores condições de vida para a classe que representa.

Proposta de atividades

1) Veja se a sua escola está preparada fisicamente para receber alunos com deficiência. Saia junto com seus colegas por toda ela reparando se há guias rebaixadas, rampas de acesso à todas dependências da escola, bebedouros e telefone público rebaixados, vagas reservadas no estacionamento, dentre outro aspectos que você ache importante. Se não acharem nada disso, ou a falta de alguns, redijam uma carta fazendo essas observações e solicitações e encaminhem à Diretoria, dizendo que vocês também desejam ter uma escola adaptada a todos.

2) Peguem cartolinas, papel-cartão ou outro tipo, cola e canetinhas. Com aqueles recortes que vocês procuraram na primeira parte deste livro, confeccionem cartazes sobre as pessoas com deficiência, suas potencialidades e tudo que vocês acharem legais nelas. Depois preguem esses cartazes no pátio ou nos murais pela escola, como uma forma de apresentá-las às demais turmas, destacando que elas poderão ser seus futuros colegas. Poderão ainda publicar isso em suas redes sociais.

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem