8 - A ESCURIDÃO

 
O fim das aulas estava chegando. Denise agora precisava mais do que nunca tirar boas notas para recuperar o tempo do acidente. A classe organizava uma excursão para “Foz do Iguaçu”. Ela também ficou animada em ir. Durante a semana, enquanto estava em aula, a diretora foi até sua casa conversar com sua mãe.

- Bem, Dona Donana. Denise já deve ter comentado da excursão da classe.

- Sim, já comentou...

- E a senhora irá deixá-la ir?

- Não sei.... Isso teríamos que ver com o pai dela. Por que, Dona Norma?

- Bem, pensando em Denise, eu me comuniquei com a companhia de turismo e infelizmente apareceram alguns problemas, devido ao seu caso.

- Que problemas?

- Infelizmente quem inventou o turismo, não pensou nas pessoas com deficiências físicas. Os ônibus, os hotéis, pontos turísticos, restaurantes, não estão preparados para receber essa classe de pessoas que são cruelmente afastados de diversões como essas. E depois a turma vai entrar no Paraguai. Não sei se a senhora conhece lá?

- Sim, conheço...

- Lá a coisa é barra pesada. E se acontecer uma coisa e o pessoal tenha que sair correndo. Ela não poderia correr. Entenda bem, Dona Donana. Não é que nós não queremos levá-la. Pelo contrário. Nós até gostaríamos que ela fosse. A senhora entende?

- Sim, entendo. E fora esses perigos, enquanto ela estivesse fora, eu e o pai dela iríamos nos preocuparmos muito. Pode deixar. Explicaremos isso à ela, que irá entender.

* * *  

O tempo foi passando. Denise sempre na mesma rotina. Estudando para as provas. Há todo instante, ainda pensando em Henrique. Esperando que apareça o tal de “Um Fã”, que não mais a escreveu. Quando saia com as amigas, eram sempre os mesmos lugares, os mesmos papos. Como era chata aquela monotonia. Só que havia uma alegria pela frente. A excursão...

  A formatura da classe ficou marcada para logo depois que voltassem. O convite estava pronto; era um lindo, com os nomes dos formandos, homenagem póstuma, paraninfa, patronos, orador, pessoal técnico administrativo e os nomes do corpo docente. Também havia lindas mensagens como: “Concedei-nos Senhor serenidade necessária para aceitar as coisas que podemos mudar, coragem para mudar aquelas de que podemos e sabedoria para distinguir uma das outras.” Aos colegas: “Que este adeus ressoe sempre em nossos corações, pelo reflexo da saudade que já se faz presente.” E aos funcionários: “Aos distanciarmo-nos desta escola que nos acolheu os sonhos, deixamos o abraço fraterno e a amizade sincera cultivada durante esses anos de convívio, aos funcionários que contribuíram de uma forma ou de outra para essa nossa conquista.”

Os convites começaram a ser distribuídos. 

* * *

 No domingo, na fazenda após o almoço, Denise foi para o seu quarto. Seu pai apareceu em seguida, visando vai ter uma conversa com ela.

- Filha, posso conversar com você?

- Sim, papai. O que houve?

- É a respeito da excursão.

- O que tem a excursão?

- Estive conversando com a sua mãe e nós achamos melhor que não vá.

- Por quê, papai?

Ele explicou à ela os motivos, perigos e dificuldades.

- Eu gostaria que você fosse. Mas se ir, não vai aproveitar nada. Vai ter que ficar o tempo todo no hotel, enquanto seus colegas estarão divertindo-se. Entende, filha? Eu só quero o seu bem. 

- Entendo, papai... – Respondeu-lhe de cabeça baixa e muito chateada.

- Fica pra outra vez?

- Fica, papai. E pensando bem, amanhã ou depois, eu ainda vou ser uma pianista famosa. E aí vou viver viajando.

- Isso filha, se Deus quiser! 

* * *

 À noite no jardim, Denise encontrou Zé Baixinho. Contou-lhe sobre a excursão da qual ela não poderia participar por ter uma deficiência física.  

- É sempre assim, Denise. O Brasil tem milhões de deficientes físicos, que pagam impostos como todo mundo. Mas não tem o direito a turismo e a diversões públicas. Aí você vê! Além do preconceito por parte das pessoas, também não podemos nos divertir.

- É Zé. É duro, mas é a realidade. Sabe? Eu não queria ir pelo passeio, mas sim pela turma. Pela farra. Minhas melhores amigas vão estar lá. Já que eu não posso ir, tudo bem. Haverá outras alegrias em minha vida.

- Sabe o que eu gosto em você, Denise? Esse seu jeito de aceitar as coisas difíceis de cabeça erguida.

- É, Zé. Eu aprendi a transcender. Aceitar a derrota, como se ela fosse uma vitória. A tristeza como se fosse alegria. Nem tudo é vitória e alegria na vida. Como também, nem tudo é derrota ou tristeza. Se as pessoas pensassem assim, tudo seria diferente. 

* * *

 Terminou as aulas e Denise conseguiu boas notas. Recuperou as perdidas na época do acidente e foi aprovada.

A classe se reuniu no dia da excursão, realizando uma festinha na classe. Cada um levou uma coisa; doces, salgados, guaraná e um gostoso bolo de chocolate. A alegria em todos era geral. Menos em Denise.

- Por que você está triste, Denise?

- Porque tudo se acabou. Vou sentir muitas saudades do pessoal. Essa turma deu-me uma coisa que eu não tinha há muito tempo; alegria! Por que será que tudo que é bom, acaba logo?

- É. É duro, mas é verdade, Denise. – Concordou Carminha.

Com um pincel atômico, eles começaram autografar as camisas. Fizeram a maior algazarra. Sujaram a classe de bolo. Tacavam aviãozinho de papel no ventilador. Falavam besteiras.

- Você vai para Foz do Iguaçu, Denise.

- Não. Infelizmente eu tenho outros compromissos. – Respondeu às amigas. Sabia que era mentira, pois ela não iria devido a sua condição física. Uma realidade que proibia as pessoas com deficiência de excursionar.

Logo então, foram todos para o meio da rua, fazer uma guerra de ovos e talco. Denise fingia rir. No fundo ela estava triste. 

* * *

   Durante à tarde, em casa, ela tocou sua cadeira até o quarto de Carminha, que estava arrumando a mala.

- Pena que você não vai...

- É, realmente é uma pena.

Concordou Denise, voltando para o seu quarto. Olhou-se no espelho, começou a chorar.

- Droga! Maldita cadeira de rodas. Por que será que só nessas horas os deficientes físicos, são diferentes!? É duro, mas é uma realidade. 

* * *

 À noite, Denise estava sozinha na varanda. Carminha saiu com sua mala.

- Você não vai há rodoviária ver a partida?

- Não Carminha. Está chovendo. Vou ficar por aqui. Boa viagem.

- Obrigada.

Carminha foi-se. As lágrimas rolaram. Denise foi para o quarto e, para parar a dor daquele momento, escreveu um poema.

 

 “POEMA PARA UMA 8a. SÉRIA QUE NÃO MAIS EXISTE”

 

É, chegamos ao fim de mais um ano letivo.

Entre todos, o melhor!

Agora com tristeza e lágrimas rabisco essas palavras.

 Hoje foi a festa de despedida da 8a. série.

Uma festa alegre, dentro da classe com um bolo e guaraná.

E muitas trocas de autógrafos nas camisas.

 Logo então, me vi entre eles, no meio da rua,

debaixo de um banho de desodorante, talco e gemada.

Agora eles vão viajar.

Eu triste, fico!

Choro!!

Choro não por não ter ido, mas sim de pensar, que tudo se acabou.

 Não mais estarei com eles. E nos recreios conversar com eles.

Mesmo porque, não mais vão estar lá.

Cada um vai seguir o seu caminho.

 

De pensar, choro.

Já sinto saudades deles.

Muito ensinaram-me.

Mostraram a mim, um lado da vida que eu não conhecia.

A alegria e da liberdade de vocabulário.

 

Hoje estou muito triste.

Pensei em sair com um amigo,

Ir para ao Porão, comer uma pizza, tomar refrigerante, 

Conversar, contar e ouvir piadas, 

Distrair-me, tentar esquecer, 

mas na fina chuva, impede-me disto.

 Quero gritar...

Parar de pensar...

Quero uma música alegre, para espantar a solidão.

 Mas não!

Apenas enxugo as lágrimas que de meus olhos escorrem...!

 * * *

  No dia seguinte, mais uma triste surpresa vinda da boca de sua mãe:

- Filha, agora que acabaram as aulas, vamos voltar a morar na fazenda. Seu pai vai vender esta casa.

- E no ano que vem, mamãe? Eu vou continuar estudando.

- Sim, filha, mas não aqui. A fazenda está produzindo pouco. Seu pai vai vendê-la e nós vamos embora.

- Para aonde, mamãe?

- Não sabemos ainda. Talvez São Paulo. Lá você e seu irmão, vão ter um estudo melhor. E então? O que você acha, filha?

- Não acho nada. A senhora e o papai decidam. Mas por favor, não peçam a minha opinião.

Aquilo foi a gota d’água que transbordou o copo. Ou melhor, a tristeza de Denise. Durante o caminho para fazenda, ela não disse nada.

Lá, depois de cumprimentar seu pai, ele perguntou:

- Sua mãe já te contou que vamos embora?

- Já...

- E o que você acha?

- Acho que vou para o meu quarto tomar banho. Dá licença.

Ela saiu. Ele olhou para Donana:

- Denise disse alguma coisa a esse respeito?

- Não. Apenas falou para que não pedíssemos sua opinião. - Bem. Depois eu falo com ela. 

* * *

Os dias foram passando. Certa tarde, Denise estava no seu quarto, deitada na cama, quando sua mãe entrou:

- Filha, telefone.

- Obrigada, mãe.

Pegou o aparelho:

- Alô...

- Alô, Denise? Aqui é o Zé Baixinho. Tudo bem?

- Tudo bem e você?

- Vou bem. Escuta. Eu preciso falar com você. Posso ir até aí?

- Claro Zé. Na minha casa, você vem a hora que quiser.

- Então daqui a pouco eu estou aí, tchau.

- Tchau...

Zezinho entrou no quarto, perguntando-lhe:

- Eu vou até a cidade. Quer alguma coisa?

- Sim, quero. – Respondendo-lhe, pegou papel, caneta, um envelope e escreve:

 

“QUERIDO UM FÔ

“Preciso muito de você. Por favor, apareça!”

 DENISE

 

Subscritou o envelope e pediu para seu irmão pôr na caixinha da farmácia.

 * * *

 Zé Baixinho chegou à fazenda.

- Como vai, Denise?

- Bem. Apesar de uma desilusão atrás da outra, vou bem.

- Vamos esquecer a tristeza. Tenho uma boa notícia pra você. Eu tenho um amigo que tem um conjunto chamado “Amantes do Pinho”. Eles tocam só músicas antigas, samba-canção, chorinhos e daí por diante. É o Ney no violão, Alício no Bandolim, Guri no atabaque, tem um que toca pandeiro e o mestre Pedrinho que toca cavaquinho. E eles pediram para eu vir convidá-la para entrar no grupo. E então, gostou?

Denise abaixou a cabeça, dizendo baixo:

- Zé, eu vou embora...

- Como!?

- Eu vou embora dessa cidade. - E começou a chorar.

- Você deve estar brincando.

- Não, Zé. Eu não estou brincando. Meu pai vai vender tudo e nós vamos voltar para São Paulo! Eu nunca fui tão feliz do que nesse ano que eu morei aqui. Nunca tive tantos amigos. – Ainda chorando: – Está certo. Tive algumas desilusões, mas elas fazem parte da vida. É como eu sempre digo: A felicidade não existe. Ou se existir, ela não tem tempo para mim!

- Você já se abriu assim com seu pai?

- Ainda não, Zé.

- Eu vou conversar com ele.

- Não, pode deixar. Eu vou tomar coragem e falo eu mesma. Quanto o conjunto, não vai dar para eu fazer parte dele. Mesmo assim, gostaria de conhecer... 

* * *

  A turma chegou da excursão. Sâmara e Carminha, foram à fazenda, contar para Denise.

- Foi gostoso, Denise. Maior farra no ônibus. No hotel a maior bagunça no elevador. Nos quartos tinha telefone. Nós ligávamos de um quarto para outro. Ficávamos até altas horas da noite na piscina.

Denise ficava quieta ouvindo.

- Fomos em restaurantes. Vimos shows. Visitamos Itaipú. Passamos para o Paraguai e fizemos compras. Inclusive trouxemos um presente para você. Toma, abra.

Denise abriu. Era uma caneta dourada.

- Obrigada, meninas. 

- Esperamos que com ela você componha lindas músicas.

- Bem. Vamos tomar um suco?

- Vamos...

- Carminha, por favor, vá à cozinha e pegue para gente.

- Sim, Denise. - Carminha foi. Ao voltar, ela perguntou:

- O corretor de imóveis está na sala, conversando com o seu pai. Vocês vão comprar alguma coisa?

- Não, Carminha. Vamos vender. A casa da cidade e a fazenda.

- Você está brincando!?

- Queria estar, mais infelizmente não, Sâmara. Dentro de um ou dois meses nós voltaremos para São Paulo. – Começou a chorar: – Droga! E não queria ir embora de Guaraçaí. Não queria deixar vocês. A paz, a tranquilidade.

- Não chora, Denise. A vida é assim mesmo. Cheia de surpresas. As coisas nunca são do jeito que nós queremos.

- É Sâmara. A vida nunca é do jeito que nós queremos. – Acalmou-se e parou de chorar.

- Mudando de assunto. Amanhã é a nossa formatura. Você vai?

- Lógico que vou...

- Então até a manhã.

- Até amanhã, meninas.

- Não fique triste, Denise. A vida às vezes é amarga, mas ela tem seu lado bom! 

* * *

 Na outra manhã, Denise acordou e, ainda na cama, pensou: “Eu sou como o Sol... Nem sempre quente e radiante... Nem sempre frio e triste... Mas todas as manhãs, renasço pra vida.”.

Depois, envolvida pela tristeza, escreveu uma crônica:

 

DESPEDIDA

 

Logo mais à noite, será minha formatura. Depois dela, voltarei aqui para o meu quarto. Olharei às paredes e certamente chorarei. Será o fim de uma caminhada de oito anos. Mais uma vez, as paredes irão caçoar de minhas lágrimas.

Lembro de quando eu era pequena. Levantava-me todas as manhãs ansiosa para ir à escola. Via os coleguinhas. Com eles brincava nos recreios. Gostava de meus professores primários. Gostava de aprender.

Logo entrei para o ginásio. Novos professores. Novas matérias. Novos colegas. As filas no pátio, que conversávamos nela, tomando broncas da nossa querida inspetora. Quantas vezes fiquei de cabeça quente estudando para as provas, fazendo trabalhos, mas tudo só agora, vejo que valeu a pena.

Como era gostoso as festinhas da escola. As datas comemorativas. Os teatros. As poesias recitadas.

As gincanas. Os cultos à bandeira todas às sextas-feiras. Amanhã será um outro dia. Uma nova vida. Irei fazer parte da luta do dia-a-dia. Sei que sempre irei ter um tempinho para olhar para trás e lembrar da querida escola.

Adeus às carteiras que sentei-me. Das classes que frequentei. Dos grandes corredores onde caminhei. Do pátio onde corri e brinquei. As serventes, professores e administradores que me viram crescer e contribuíram para minha formação. Mas um principal adeus, aos colegas que tive nesses oito anos de caminhadas. Nossos papos e nossas aventuras sempre estarão contidas nas lembranças.

Dizem que nesse mundo, até as pedras se encontram. Quem sabe um dia nós nos encontremos por aí! 

* * *

 Realizada no pátio da escola, a formatura foi simples, mas bonita. Tinha muita gente assistindo. Os formandos sentados todos juntos. Os discursos das autoridades presentes. Tudo apresentado pela diretora da escola. Cada um chamado à frente para receber das mãos das professoras os certificados. A alegria em todos era geral. Muitos risos, trocas de abraços. Muitas fotos. Denise, novamente pensou: “É. Tudo agora se torna cinzas que o vento levará. Na pele ficará as cicatrizes de lembranças!”

 Sâmara foi até ela:

- Denise, eu e as meninas vamos até o “O Porão” comer uma pizza. Quer vir com a gente?

- Não, Sâmara. Não tenho mais residência aqui na cidade. Vou ter que voltar para fazenda com meus pais. Obrigada. Fica pra uma outra vez. 

* * *

 E mais uma vez, voltou para as solitárias paredes de seu quarto.Zezinho estava deitado no sofá, lendo uma revista. Denise foi até ele: 

- O que você acha de voltarmos pra São Paulo?

- Acho uma boa. Essa cidade é muito pacata pra mim. E você?

- Eu acho uma droga!!! - Respondeu Denise, tocando novamente sua cadeira para o seu quarto.

Seu pai, que ouviu tudo, foi atrás.

- Filha, nós precisamos ir. A agricultura está falindo. Os juros bancários estão altíssimos. Se continuarmos insistindo na fazenda, iremos perder tudo.

- Eu não quero ir, papai!

- Denise, vê o lado bom disto. Você não quer ser música?

- Sim, quero. Mais o que isso tem haver?

- Pense bem, filha. Aqui você não terá futuro. Não terá campo pra sua obra. Não terá público para apreciar suas composições. E em São Paulo você terá tudo isso.

- Papai, o melhor ano de minha vida, foi esse que eu morei aqui. Que adianta ter tudo lá, se não terei alegrias, verdadeiros amigos, a natureza e a paz para me inspirar. E o mais importante. Lá não terei liberdade. Infelizmente, as cidades grandes não estão adaptadas para pessoas iguais a mim.

- Eu sei, filha. Mas tente entender...

- Por que sempre eu tenho que entender as pessoas? Por que ninguém tenta me entender? Não veem que também tenho sentimentos, vontades, que também sou gente? Por que vocês não veem que também tenho meus direitos? Até quando vocês vão dizer o que tenho que fazer ou deixar de fazer? Pô! Deixem pelo menos uma vez na vida, eu decidir o que é melhor pra mim. - Ela disse em uma explosão de desabafo: - Por favor, papai. Vamos ficar?

- Não dá, filha. Entenda...

Denise caiu em sua cama e mais uma vez chorou.

 * * *

 No final de semana, Carminha foi à fazenda.

- Vamos ao Clube hoje, Denise?

- Não Carminha. Eu não estou com vontade.

- O que está havendo? Você já não é a mesma. Já não é alegre como antes. Não se houve mais o seu piano. Não sai mais da fazenda...

- Sei lá. As coisas já não são as mesmas. Antes eu tinha a classe para me dar alegria e já não há tenho mais. O Henrique que não me quer. O amor dói dentro de mim. Essa monotonia que não muda. É tudo sempre igual. Duro mesmo é de pensar que tudo vai se acabar. Eu vou mudar para um inferno chamado São Paulo.

- Mas você já não se conformou com isto?

- Já, mas ainda não aceito.

- E “Um Fã”? Você tem tido notícias dele?

- Não. A hora que eu mais precisei dele, não apareceu. Nem se quer me escreveu. Pensando bem, deve ser alguém curtindo com a minha cara. E quer saber do que mais? Vou esquecer o Henrique.

- Então Denise. Ficando em casa, você não vai conseguir esquecer ele. Seu pensamento estará o dia todo voltado nele. Você tem que sair. Se divertir. Até mesmo, tentar um novo amor.

- Acho que você tem razão. Vou voltar à vida.

- Isso. Assim que se fala. Então até a noite?

- Até à noite.

Carminha saiu. Pensando no que disse, Denise escreveu:

 

ESTÁ FECHADO

 

Saia...

Não! Não quero você mais em minha vida,

como se fosse, um delírio

 Chega de ilusão

em versos e trovas

 Agora fechei meu coração pra balanço.

Perdi a chave e tão cedo não me interessa encontrá-la!

 * * *

 À noite, ela foi com suas amigas para o Guaraçaí Clube. Como sempre na mesa, só ela e Carminha. Chegou o Zé Baixinho.

- Oi meninas.

- Oi, Zé. Senta-se aí com a gente. – Pediu Denise.

- Está quente hoje, não?

- Está sim, Zé. Aliás, aqui sempre foi quente.

- Tudo bem com você, Denise?

- Tudo bem, graças a Deus...

- E o coração?

- Está ótimo! - Disse Denise, alegremente.

- Você está fazendo o que eu lhe ensinei?

- Estou.

Henrique passou, cumprimentando-a:

- Oi, Denise.

- Oi, Henrique.

- É, eu acho que não... - Falou Zé Baixinho.

- Bem Zé, ele me cumprimentou. Eu não poderia ter virado a cara.

- Tudo bem, Denise, você não me deve nenhuma satisfação.

- Devo sim, Zé. Você e seus sábios conselhos me ajudam muito.

- Denise, já que você está acompanhada, vou dar uma volta.

- Pode ir, Carminha. Tudo bem.

Ela saiu.

- Você tem tentado arrumar um namorado?

- É, tenho pensado nisto... Sei lá... Às vezes penso em tentar. Mas no mesmo instante tenho medo de me apaixonar de novo, ser rejeitada e sofrer outra vez. Sabe, Zé? Às vezes penso; eu sou uma artista, em princípio de carreira, mas só. Já mostrei um pouco do meu trabalho. Já mostrei minha capacidade. Que sou alguém. Para eu arrumar um namorado, uma paquera já é dificíssimo. Imagina àquelas pessoas com deficiência que nada são. Apenas pessoas de cargos comuns.

- É Denise. Elas quase todos, são vítimas de pré-conceitos por parte das pessoas. Isso faz parte da vida. Acho que isso nunca vai mudar.

- Mais isso tem que mudar. Nós também somos gente. As pessoas têm que compreender isso. Nós temos que ter os mesmos direitos. Frequentar os mesmos lugares. Ter o direito ao amor. Tem que acabar esse preconceito. Afinal, também somos filhos de Deus.

- Tudo isso que você disse, é muito bonito. É a pura verdade. Será difícil as pessoas entenderem isso.

- Elas entenderão, Zé. Eu irei gritar isso ao mundo, através de minha obra. Afinal, as pessoas com deficiência não são os monstros que muitos projetam. Muitas se conscientizarão de tudo o que eu disse agora.

Carminha voltou.

- Eu li agora ali no cartaz que os “Amantes do Pinho” vão tocar sábado do CESE.

- Esse não é aquele conjunto que você me falou?

- Sim, é. Por quê? Você quer tocar com eles?

- Seria um prazer...

- Então está bom. Deixa-me andar. Vou ver se encontro o Pedrinho e falo com ele sobre isso.

 

Zé Baixinho se despediu e foi caminhar.

- Vou arrumar um novo amor. – Disse Denise num repente.

- Boa ideia, Denise.

Ficaram observando as pessoas a caminharem e dançarem. De repente, um moço de camisa branca e calça preta, moreno, nem alto e nem baixo, mexeu com a estrutura de Denise. “É ele!” - Pensou ela, sendo atraída pela sua beleza.

- Carminha, você conhece aquele rapaz, ali?

- Não, ele é da cidade vizinha, Murutinga do Sul. Por quê?

- Estou afim dele.

- Quer falar com ele? Eu o chamo aqui.

- Não, Carminha. Vou fazer melhor. Vou lhe enviar um poema. Você arruma alguém para entregar?

- Eu mesmo posso entregar.

- Não, vou mandar no anonimato. Quero deixá-lo curioso. Quero ver sua reação. Se você entregar, ele vai sacar que fui eu que mandei.

- Tudo bem. Escreva que eu faço o resto. E ela escreveu:

 

“CONVITE À VOCÊ!”

 

Não! Você não é um sonho...

É uma realidade,

que agora componho.

Você é um delírio...

Eu sim, sou um trem sem trilho.

Você é tudo...

Eu não sou nada.

Não tenho ao meu lado.

Mas mesmo assim,

convido-o a ser meu namorado!

(Poetisa anônima)

 

Carminha pediu para Sâmara entregar. Denise teve um pouco de medo, mas vibrou com toda aquela armação. No fim da noite, Sâmara veio à mesa delas.

- E aí, Sâmara?

- Entreguei.

- Não falou quem enviou?

- Não, ele insistiu muito, mas eu não falei.

- Isso.

- Se você quiser, eu falo.

- Não, vamos fazer o jogo de adivinha. Vamos deixá-lo curioso.

 * * *

 No outro dia, domingo, Carminha foi até à fazenda conversar.

- E aí, Denise. Como está por dentro?

- Estou ótima, Carminha. O Zé me ligou hoje cedo e terça-feira, eu vou fazer o teste para tocar sábado com os “Amantes do Pinho”.

- E aquele lance de ontem? Você pensou?

- Não só pensei, como fiz uma poesia. Quer ver?

- Sim, quero.

- Vou ler ela pra você. Chama-se “Gostoso Mistério!”

 

De você nada sei,

mas em sonho já te beijei.

Não sei de onde veio,

mas tu és meu desejo.

Não é imaginação,

mas penso em ti,

quando entro em solidão.

Na vida não sei o que você faz,

mas pra mim és paz.

 

Não sei o seu nome.

Por que você sempre some?

Será que me aceitará,

se algum dia eu me revelar?

Por que destino,

poste em meu caminho?

 

Será que me revelo?

Acabo com esse mistério?

Talvez algum dia,

eu escrevo meu nome em alguma poesia.

Vou continuar com meu pseudônimo.

Ou seja: “Poetisa anônima!”

Tenho cicatrizes que a vida fez.

Tenho medo de tentar e errar outra vez:

Sou poetisa de papo sério.

Tu és um gostoso mistério.

 

Será que te perturbo?

Por favor, se quiser.

escreva-me e diga tudo o que na cabeça der!

 

- Bonito, Denise. Você vai mandar pra ele?

- Não sei, Carminha. Talvez.

- Por que, talvez?

- Estou com medo...

- Medo!?

- É, medo. Sabe Carminha. Eu sofri muito amando o Henrique. Vai que me apaixone por ele. Ele não irá me querer quando descobrir que eu sou uma paraplégica.

- E por que não, Denise?

- Você conhece a Celinha?

- Sim, conheço. O que tem ela com isso?

- Ela é uma moça bonita e charmosa. Ele a dispensou que eu vi. Acha que ele vai me querer?

- E por que não? Você é normal como todos. E quer saber do que mais? Como disse Mário, o preconceito parte principalmente de você. Vamos lá, amiga. Esqueça pelo menos uma vez o seu problema e vá à luta.

- É isso aí, Carminha. Eu vou à luta! – Concordou Denise, decidida.

 

À noite, ela levou a poesia ao Clube. Ficou triste ao perceber que ele não veio. E pensou: “Fica para o sábado!”

 * * *

  Terça-feira. Denise foi até o CESE, assistir aos ensaios e fazer os textos. Os membros do grupo há testaram. Até que o Mestre Pedrinho disse:

- Pô, Denise. Você toca bem pra caramba.

- Que isso, Pedrinho. Eu apenas sou uma principiante. E aí, gostou?

- Adoramos. Toca conosco no sábado?

- Lógico. Com muito prazer.

- Por que você não traz amanhã umas músicas suas para gente ensaiar e tocar no baile?

- Posso!?

- Claro, Denise. Vamos fazer sucesso juntos.


* * *

Na tarde do outro dia, Denise estava descansando na sombra da varanda da fazenda, quando na amoreira junto à ela, sentou um pássaro de peito amarelo, começando a cantar. Era um Bem-te-vi.

- Bem-te-vi... bem-te-vi... bem-te-vi..

- Você parece dizer-me algo, pássaro. Você é tão lindo. De pelagem formosa. Sua voz é tão ardente, tão forte. É, realmente não sei o que você quer dizer, mas uma coisa eu sei... você é mais feliz do que eu! 

* * *

Sábado. Denise se preparou para ir para o CESE, apresentar-se com os ’Amantes do Pinho”. E não se esqueceu de levar a poesia, “Gostoso Mistério” em sua bolsinha, na esperança que o boy de Murutinga, estaria lá. 

No Clube, eles arrumaram tudo. Deram os últimos retoques. Com a ajuda do Guri, Denise foi até o seu piano. Seus dedos iriam percorrer o teclado em público mais uma vez. Tudo pronto. As portas foram abertas. Começou o show. Tocaram lindos chorinhos, músicas antigas, boleros e samba-canção. Denise sentiu-se feliz e pensou tocando: “Devo aproveitar esses momentos de alegrias. Pois eles são raros!”

Terminou a primeira seleção. A pianista foi tomar uma coca-cola junto com sua amiga, Carminha.

- E aí, Carminha? Viu o cara de Murutinga?

- Não, por quê?

- É que eu trouxe aquela poesia pra ele. Mas deixa. Amanhã ele deverá vir ao Guaraçaí Clube.

Recomeçou o show. Na pista muitos dançavam sob o som daquele conjunto. Novamente ela pensou: “Essas músicas que foram sucesso nos velhos tempos, deveriam ser relembradas mais vezes. Ouvindo-as fico emocionada. Pois naquela época que se vivia bem. Que bom seria se ainda tudo fosse um eterno romantismo!”  

Mestre Pedrinho, ao microfone, pediu a atenção de todos:

- Bem, agora iremos tocar algumas músicas compostas pela nossa nova colega, a pianista Denise. São belas músicas. Tenho certeza que todos vão gostar.

As músicas foram tocadas, muito aplaudidas. Assim juntos, Denise e os Amantes do Pinho, fecharam a noite.

* * *

Noite de domingo. Como sempre, havia brincadeira dançante no Guaraçaí Clube. Denise levou a poesia no Clube na esperança de encontrar o moço de Murutinga. O Clube estava cheio. Muitos casais de namorados. Carminha não pode ir, mas Denise foi com Sâmara. Lá sua amiga encontrou o namorado, deixando-a sozinha. Não ligou. O tempo foi passando e, ela percebe que o cara não veio. Pensou: “É, ele não veio. Acho que deve ter outra por lá. Também ele não iria me querer do jeito que sou. Uma paraplégica em uma cadeira de rodas. Teria vergonha de sair em público comigo. As pessoas deveriam aprender julgar umas às outras, pelo seu lado interior e não pelo lado exterior!”

Um amigo e uma amiga passavam e a cumprimentaram. Ela sorriu, mas no fundo era um sorriso falso: “Por que será que estou triste assim? As coisas começaram dar tudo erradas. Não tenho alguém para ouvir meus lamentos. Pensando bem, as pessoas já têm seus problemas, não é justo que eu as perturbe com os meus. Aqui, todo mundo está feliz e eu triste. Estou é com uma enorme vontade de morrer. Acho que assim tudo iria acabar. Não haveria mais sofrimento. Mas pra que morrer agora, se a vida é uma linda caminhada, apenas iniciada? E o sofrimento deve fazer parte dessa caminhada. Deve ser um dos obstáculos para conquistarmos a alegria!” 

* * *

  Como se já fosse uma rotina, todas as tardes, Carminha deixava o sítio de seus pais, indo passar algumas horas na fazenda da amiga. Até que em um desses encontros, foi indagada:

- Sabe, Carminha. Eu estive percebendo um negócio. Esse tempo todo, eu falei do meu amor. Desabafei com você, minha melhor amiga. E você nunca falou de ninguém. Você não ama ninguém?

- Não. Eu não amo ninguém.

- Não minta, Carminha. Eu vejo em seus olhos.

- É, realmente eu tenho um amor.

- Quem é?

- Eu não queria falar nisso, Denise.

- Qual é, Carminha. Não confia em sua amiga?

- Sim, confio.

- Então, pode contar.

Carminha abaixou a cabeça e revelou:

- É o Henrique...

Denise tomou um choque:

- Não!? Fiquei todo esse tempo falando nele. Você amando-o também não disse nada. Faz tempo?

- Faz. Desde quando você não morava aqui ainda. Confesso que naquela noite que vocês ficaram juntos no CESE, tive raiva de você. Não sei se você lembra, mas eu cheguei me afastar por uns tempos. Depois sofreu o acidente. Eu vi que você iria precisar de uma verdadeira amiga e voltei a conversar com você.

- Por que você nunca disse nada?

- Eu sabia que eu nunca teria chance com Henrique. Ele não iria me querer.

- E por que não?

- Pelo seguinte. Ele é um cara cheio de vaidade. Não iria querer alguém simples como eu.

- Você errou, Carminha.

- É, eu devo ter errado me sentido inferior a ele.

- Você não é inferior a ninguém. Pelo contrário. Você chega até ser superior a muitos, pelo simples fato de ser uma pessoa simples e verdadeira.

- Você está certa, Denise. Não devemos ter “Complexo de Inferioridade!”

- Por que você não tenta com o Henrique?

- E você?

- Eu lhe darei o maior apoio. 

* * *

 Naquela noite, Denise dormiu, sonhou estar fugindo por um túnel escuro, sobre gritos de dragão e guizos de serpente, mas uma vez uma voz lhe disse: “Se algum dia, sentires perdida com medo na escuridão, não tenha medo. Pois eu serei a luz no fim do túnel...” Ela reconheceu a voz: “É dele...” 

* * *

 Véspera de Natal. Denise teve uma surpresa. Logo pela manhã, recebeu uma carta. Ao abri-la, viu que era um cartão bege com uma linda rosa cor-de-rosa clara. No galho verde claro, um lacinho azul com um cartãozinho pendurado, escrito em letras douradas: “Para você o carinho de minha amizade”. Ao abrir o cartão, outro pequeno texto: “Denise! Uma flor para enfeitar o seu caminho. O caminho por onde você espalhou só amor. Feliz Natal e um próspero ano novo de 1988”! Junto ao cartão, uma carta:

 

QUERIDA DENISE!

Oi! Tudo joia com você? Comigo muito feliz depois que de vi tocar no CESE. Suas composições saíram umas mais belas do que as outras.

Denise, recebi seu bilhete dizendo que precisava de mim. Não pude ir ao seu encontro por estar fora da cidade. Motivo pelo qual, também, demorei para lhe escrever. Seja qual for seu problema, espero que já tenha resolvido. Peço-lhe que me desculpe, por não ter escrito antes.

Se Deus quiser, você irá fazer muito sucesso e muitas músicas há de compor, pois seu sucesso está fazendo a todos envolver. Aproveitando a oportunidade, vou lhe desejar um feliz ano novo de 1988 e muito sucesso em sua caminhada, pois você merece!!!

Espero sua carta, desse que tanto lhe quer bem.

“Um Fã”

 Ficou alegre, pois pensara que “um fã”, era apenas alguém curtindo com sua cara!

 * * *

 Denise foi, juntamente com seus pais, passar a véspera de Natal no CESE.Sentaram-se em uma mesa juntos aonde vendia fichas no bar. À princípio, parecia uma brincadeira dançante normal. Ao dar meia-noite, parou o rock e começou a tocar uma música natalina. Do lugar onde vendia fichas de bebidas, saíram pessoas com garrafas de champanhas, indo estourar na pista. Todo mundo começou a trocar abraços e apertos de mãos desejando “Feliz Natal”. 

Denise cumprimentou sua mãe, seu irmão, Carminha e, ao cumprimentar seu pai, ele tirou um pequeno pacote do bolso e lhe deu:

- Toma, filha. O seu presente de Natal.

Ela desembrulhou.

- É uma joia...!

Jugou ela pelo estojo.

- Abre que você verá. - Disse sua mãe.

Ao abrir, teve uma surpresa. Eram as chaves da casa da cidade.

- Decidi não vendê-la. Ela é sua. Ficará para você passar as férias e o verão.

Denise o abraçou.

- Obrigada, papai.

- De nada filha. Você merece.

- E eu, não ganho nada? - Perguntou Zezinho.

- Sim, filho. - Respondeu Valmir, tirando do bolso um chaveiro.

- Também, uma casa?

- Não filho. O seu carro.

- Ambos !!!

- Ele está lá fora. Vamos ver?

Valmir, Donana e Zezinho se levantam.

- Vamos ver, Denise?

- Não, papai. Vou ficar aqui com Carminha. Eu vejo depois.

Eles saíram.

- E aí, Carminha? E o Henrique?

- Decidi um negócio, Denise.

- O quê?

- Eu vou falar com ele, hoje.

- Ótimo. Vai até lá. Eu fico aqui torcendo por você.

 Carminha foi até ele.

- Henrique, posso falar com você?

- Sim, Carminha. O que houve?

- É particular.

- Então vamos até lá fora.

Lá ela se revelou:

- Sabe o que é, Henrique. Eu lhe amo. Já faz algum tempo. Mais ou menos um ano e meio. Eu queria que você aceitasse-me como sua namorada.

Ele riu:

- Imagina que eu vou querer namorar contigo!!!

- E por que não?

- Porque olha nossa diferença. Vê se tem cabimento.

- Que diferença, se somos iguais. Quando morremos vamos para o mesmo buraco. Feder do mesmo jeito. – Ela aproxima-se dele: – E por falar nisso cara, você já está fedendo... Tchau!!!

Ela saiu. Ele ficou com a cara no chão sem ter uma resposta.

 Na mesa, ela conta à Denise, que riu. Carminha disse ainda mais:

- Esses carinhas e essas menininhas riquinhas, ou melhor, metidos a ricos, mas não tem coisa nenhuma, tem que entender que somos todos iguais!!!

  Sâmara, Tininha e Leia se aproximaram delas:

- Pô, sábado tem o baile de Reveillon.

- É mesmo. Você já escolheu sua roupa?

- Eu já. E você, Lena?

- Eu também.

- Por falar em baile, agora a pouco, eu fiquei com um cara ótimo. - Contou Tininha.

- Eu também. Foi tão bom. Tão gostoso... - Falou Lena.

- E você, Carminha. Nunca vimos você com nenhum homem. Você não gosta disso?

- Sabe o que é, meninas? Dentro de mim ainda há um pouco de romantismo. Eu não vou me entregando a qualquer um.

- Também não é assim.

Denise saiu em defesa de sua amiga:

- Lógico que é. Nossa geração, mal conhece uma pessoa já se entrega. Depois dos prazeres vem contando vantagem. Não ligam em dizerem que foram objeto de alguém.

  Quase no final da noite, Denise recebeu um bilhete misterioso: “Será no Reveillon que tirarei a máscara!”

PRÓXIMO CAPÍTULO

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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