Naquele dia, todos se preparavam-se para o grande
baile de Reveillon. Todos alegres. Menos ela. Seus pais, suas amigas, todos iam
ao baile. O último dia do ano, era triste, como um velório para ela: “O ano
seguinte será melhor? Será que meus sonhos vão se realizar? Será que
conseguirei o meu maior ideal?? O Amor!? Não sei... Vou esperar. Amanhã será um
outro ano. Uma nova esperança...”
* * *
Reveillon no Guaraçaí Clube. Denise fingia estar
contente, vestia uma linda blusa vermelha com uma jardineira branca e sandálias
de fios.
O baile era animado com um bom conjunto mexicano,
“Uma noite em lá Merico”. A decoração no mesmo estilo. Devido ao calor e o
grande número de gente, Denise pediu a Carminha, que a levasse para dar uma
volta pela praça. Lá, sendo empurrada pela grande a amiga e com mais uma ao
lado, cantavam a “Valsa da despedida” e uma música de Roberto Carlos,
“Despedida”! Estavam despedindo do ano que se acabava. O sino da igreja deu
doze badaladas. Era o fim de 1987. Os fogos começavam a estourar. Denise
pensou: “É, acabou...” Todo mundo se cumprimentava, sob o gosto das
champanhas.
- Feliz ano novo, Carminha!
- Feliz ano novo, Denise! Vamos lá pra dentro?
- Sim, vamos...
Lá dentro a alegria era geral. Todo mundo
cumprimentando e abraçando todo mundo. O conjunto cantava: “Adeus ano velho,
feliz ano novo, que tudo se realize, no ano que vai nascer. Muito dinheiro no
bolso. Saúde pra dar e vender!”
Denise foi à mesa de seus pais, que ficava na curva
da varanda.
- Feliz ano, papai... mamãe... Zezinho.
- Feliz ano novo, filha!
- Feliz ano novo, Denise!
Todos que passavam por ali, a cumprimentava. Zé Baixinho,
Mário, Sâmara, Lena, Tininha, o pessoal da escola, professores, colegas, a
diretora Dona Norma, enfim, todos. Foi quando ela viu Henrique vindo pela sua
esquerda. “Vou cumprimentá-lo!”, pensou.
- Henrique? – Estende a mão: – Feliz ano novo...
- Feliz ano novo pra você, Denise. Tudo de bom...
- Obrigada...
Ele aí saindo, mas voltou num repente:
- Denise?
- Oi?
- Eu quero falar com você.
- Pode falar.
- Aqui não. Posso lhe levar até a praça?
- Sim, vamos.
Eles foram. Lá ele sentou-se em um banco e ela ficou
na cadeira de rodas.
- Hoje está quente. Essa minha cadeira é de couro.
Soa para caramba.
- Posso lhe passar para o banco?
Denise pensou um pouquinho:
- Pode.
Henrique a pegou no colo. Ela pensou: “Que bom se
sempre fosse assim!”
Colocou-a no banco, começando a falar:
- Sabe o que é, Denise...?
- Espera aí, Henrique. Eu sempre esperei está frente
à frente com você. E para esse momento, eu me preparei. E recitou:
Eu
lhe peço perdão,
por
ter sonhado com o seu beijo.
Saciando
minha vontade e todo meu desejo.
Perdão
por ter lhe amado.
Por
amá-lo por beijá-lo.
Procurando
o tão desejado.
Perdão
por possuir o seu retrato.
Ver nele você,
Todo
o seu ser.
Encontrando
nele, todo um amparo.
Por
que peço perdão?
Que
culpa tenho eu,
se
um dia lhe amei?
E
só você, eu desejei!
Será
que errei?
Ou
será que não?
Mas
mesmo assim,
eu
lhe peço perdão!
- Não, Denise. Você não errou. Se alguém errou, fui eu
rejeitando-a. E ao descobrir esse erro, também descobri uma coisa muito
importante. Descobri que lhe amo, acima de tudo. Quero que namore comigo.
Denise tomou um choque que mudou alguma coisa dentro
dela:
- Bem que eu queria, Henrique. Mas não vai dar.
- Mas por que, Denise...?
- Nosso amor nunca iria dar certo. Você não é cara de
ficar preso a só uma pessoa. Gosta de frequentar lugares agitados. Sempre muito
badalado por muitas mulheres. Não é nem um pouco romântico. Eu sou totalmente
diferente. E depois, eu iria tornar um peso em sua vida mais tarde.
- Não Denise. Não será assim. Eu nunca amei como amo
você agora. Posso provar. Até largo tudo isso por você. Por favor, Denise...?
- Eu vou embora pra São Paulo. Não quero começar nada
agora, para ter que acabar daqui alguns dias. Eu sei que você deveria ser a luz
no fim do meu túnel. Mas acho melhor que ela não se acenda.
- Será que você tem outro?
- Nada sério ainda. Mas tenho “Um Fã”...
- Ele você aceitará?
- Não sei responder...
- Bem, eu não vou insistir. Quer que eu a leve para
dentro?
- Não, Henrique. Está uma noite tão bonita. Tão
fresca. Quero ficar um pouco aqui sozinha. Por favor, avise Carminha, sim.
- Tudo bem.
Ele saiu caminhando lentamente de cabeça baixa. De
repente, virou-se e gritou:
- Eu lhe amo...
E continuou sua caminhada. Ela sem dizer nada, pensou: “Eu também lhe amo. Mas foi melhor assim...”
* * *
Os minutos foram passando. Denise continuava no banco.
Carminha chegou toda feliz.
- Denise, você não sabe da maior!
- O quê, Carminha?
- Enquanto você estava aqui, o Mário me tirou para
dançar. De repente, ele me pediu em namoro. E eu aceitei.
- E o Henrique?
- Esqueci no momento do primeiro beijo que ele me
deu.
“Eu também queria esquecê-lo...” - Pensou
Denise.
As duas olharam pra esquina e viram Mário.
- Deixa eu ir. Ele está me esperando.
- Vai Carminha. Boa Sorte.
Ela continuou no banco. De repente, alguém de máscara
negra se aproximou e parou diante dela.
- Você deve ser o “Um Fã”?
Ele balançou a cabeça positivamente e tirou a
máscara.
- Você!?
- Eu sabia que você iria ficar surpresa.
- Nunca imaginei que fosse você.
- Posso me sentar?
- Ah sim, pode...
- Eu peço desculpa se eu lhe decepcionei.
- Não. Você não me decepcionou, Cássio. Mas por que
só agora você resolveu se revelar?
- É. Primeiro eu fiquei com medo da sua reação ao
saber que era eu. E depois porque fiquei sabendo de sua partida.
- Como você ficou sabendo?
- Todo esse tempo eu tive uma informante. Pode se
lembrar que eu sabia o momento certo de lhe escrever. Foi essa informante que
pôs a rosa em seu camarim. Ela me contava tudo de você.
- Quem é ela?
- Carminha. Meus pais são empregados do sítio dela.
Fomos criados juntos. Ela me incentivou muito.
- E por que você parou de estudar?
- Eu não parei de estudar. Fui para Londrina, estudar
artes plásticas. Já estou pintando alguns quadros. Sabe Denise? Eu estou muito
arrependido do que fiz.
- Mas por que, Cássio?
- Como eu disse, quero ser um artista plástico. E
pintor não tem um amanhã seguro. Não poderia lhe dar um futuro garantido...
Ela colocou a mão de leve em sua boca.
- Chega. Você já falou muito. E isso de futuro não
importa pra mim.
Ela lhe deu um beijo. Cássio deixou rolar a primeira
lágrima...
- Você me aceita do jeito que eu sou?
- Bem que eu queria. Também passei a lhe amar mesmo
não sabendo quem era. Como você sabe, vou embora. Acho melhor levar as
lembranças do que não começou, do que começou e teve que acabar.
Desculpe-me, mas será melhor pra nós dois.
- Agora quem falou muito foi você.
Ela deixou cair a segunda lágrima.
- Você não voltará um dia?
- Talvez no verão.
- Posso lhe esperar?
- Não sei...
- Posso?
Denise olhou dentro de seus olhos.
- Pode...
E recitou:
Quando
o verão chegar em Guaraçaí
eu
voltarei para te encontrar.
Serão
quatro meses de calor,
aventura
e muito amor.
Quando
o verão chegar em Guaraçaí,
tudo
será diferente.
Você
verá que eu também sou gente.
Terei
na boca, um beijo ardente.
Quando
o verão chegar em Guaraçaí,
estarei
mudada.
Pronta
para ser sua namorada.
Andaremos
de mãos dadas.
Quando
o verão chegar em Guaraçaí,
estarei
pronta para o amor.
Deixarei
na gaveta a solidão e a dor.
Terei
no corpo, uma longa espera.
Nos
lábios o beijo saciando
em sua boca todo o meu desejo.
Terei
o brilho no olhar.
No
beijo do reencontro
nosso
amor irá se concretizar!
Quando
o verão chegar em Guaraçaí,
as
emoções estarão em seu coração.
Eu
e você, seremos nós.
Juntos
iremos dizer:
“Te
Amo”, em uma só voz.
Quando
o verão chegar em Guaraçaí,
não
haverá mais preconceitos.
Iremos
esquecer nossos defeitos.
Serei
como todo mundo,
nosso
amor, será tudo.
Você
irá sorrir pra mim, e eu pra você.
Juntos
iremos passear pelo jardim.
Peço-lhe
apenas pra me esperar.
Tudo
será lindo
Quando
o verão chegar em Guaraçaí!
Na união de dois lábios, rolou a terceira lágrima...
FIM...