8 - FLORES SECAS DO PASSADO

Naquele final de semana não teve nenhuma festa, baile ou brincadeira dançante na cidade. Quando isso acontecia, muitos jovens iam às cidades vizinhas em diferentes eventos. 

Como Josineide tinha plantão no hospital no dia seguinte, preferiu não sair. Jéssica aceitou o convite para dar uma volta com Eduardo. Foram comer um lanche e depois sentaram-se em um banco da praça. Estava uma noite quente, agradável. Vários grupos de amigos, casais de namorados estavam por ali. Era uma tranquilidade de uma pequena cidade de interior.

O papo corria descontraído quando um rapaz que ela tinha sido apresentada por Josineide em um baile, aproximou-se deles e disse somente à Jéssica:

- O pessoal está indo em um baile aqui na cidade vizinha, você quer vir com a gente?

- Eu agradeço o convite – respondeu ela simpaticamente: - Mas hoje eu prefiro ficar aqui com o meu amigo Eduardo.

Ela, embora já conhecesse várias pessoas na cidade, preferia ficar na companhia de Josineide e Eduardo, com quem ela se sentia bem.

- Acho que ele estava afim de você – comentou o rapaz.

- Ele pode tirar o cavalinho da chuva – brincou ela rindo.

- Desculpe-me ser invasivo, mas eu não entendo como uma morena linda, inteligente, simpática como você não tem namorado, ou ainda não se casou...

- Agradeço os predicados. Mas essa é uma longa história, meu amigo.

- Se você quiser contar, tenho todo o tempo do mundo para ouvir – disse ele sorrindo.

Estar ao lado de Eduardo lhe fazia bem. Ela sentia confiança, segurança, prazer em conversar e ouvi-lo. E resolveu abrir o seu coração:

- Sabe, na época da faculdade eu tive um grande amor. Era um estudante de medicina, filho de uma família tradicional. Foi uma coisa intensa, muito forte. Eu não entendia o porquê ele não me apresentava à sua família. Após alguns meses ele me levou há um jantar em sua casa. Senti que seus pais ficaram desconfortáveis com a minha presença. Nos próximos dias ele começou a ficar tenso em nossos encontros, parecia querer me dizer algo, mas não tinha coragem. Até que ele me revelou que sua família não me aceitava devido a cor da minha pele. Como ele era muito submisso ao pai, terminou tudo, sumiu, não atendia mais as minhas ligações. – Ela deixou correr algumas lágrimas, completando: - Dois meses depois li na página social de um jornal que ele iria se casar com uma moça da sociedade.

- Idiota!!! – Exclamou Eduardo: - E com isso as flores mucharam em seu coração?

- Pode até ser que mucharam. Mas também o fato do meu pai ter sido gerente de banco, termos mudado sempre de cidade, isso talvez me impediu de fortalecer círculos de convivência, conhecer rapazes que valiam a pena. Até que meu pai aposentou-se e escolheu esta cidade para ficarmos definitivos.

Uma pausa tomou os dois. Ficaram olhando o movimento da praça. Até que Eduardo foi surpreendido com a pergunta:

- Agora você meu diga, por que um rapaz inteligente, estudado, engajado socialmente não tem uma namorada ou ainda não se casou?

- Essa é uma longa história, minha amiga.

- Se você quiser contar, tenho todo o tempo do mundo para ouvir – disse ela rindo.

- Foi na época do ginásio. Tinha uma moça na minha turma chamada Lidiane. Éramos muito amigos e eu acho que eu nutria um sentimento diferente por ela, mas nunca contei. Com o tempo ela por ser filha de sitiante com boas condições financeiras e por ter boa mobilidade física, pode ir estudar na cidade grande. Também estudou jornalismo e está fazendo a carreira dela por lá.

- Mas você também tem boa mobilidade física, Edu. Apenas um pouco mais acentuada.

- Eu sei. Depois eu até me interessei por outras moças, só que na adolescência elas têm a fantasia do príncipe encantando, lindo, perfeito. Eu não me encaixava nesse perfil – disse ele rindo com um bom humor em tocar nesse assunto.

- Elas foram todas umas bobas. Perderam a oportunidade de conhecer o grande rapaz que você é...!

- Agradeço Jéssica, você também é muito especial, diferente de muita gente que conheço. Continuando, acho que eu também teria dificuldades com algumas das famílias dessas moças. O francês Pierre Fédida dizia que a imagem da pessoa com deficiência muitas vezes é como um “espelho perturbador” na sociedade, incomodando por trazer à tona medos inconscientes, a impotência em reconhecermos nossas próprias deficiências, nossas próprias debilidades. Essa imagem perturbadora derruba falsos conceitos que somos perfeitos, sensações de beleza. E muitos querem evitar ficar de fronte a uma pessoa com deficiência justamente para não perturbá-los em seus egos fragilizados e inseguranças mais secretas. E tê-los como genros ou noras então, nem pensar.

Jéssica o olhou com ternura, declarando:

- Pois pra mim, você não é um “espelho perturbador” em nada!!!

* * *

Jéssica está sentada na sala com seus pais assistindo ao telejornal. O apresentador narrou:

- O governo federal sancionou hoje a nova Política Nacional de Educação Especial (PNEE). A medida, na prática, tira a obrigatoriedade da escola comum em realizar a matrícula de estudantes com deficiência e permite a volta do ensino regular em escolas.

A cena foi cortada para o senador Fábio Bueno Áires:

  - Hoje, sob o argumento da inclusão, esses estudantes devem cursar os ensinos infantil, fundamental e médio em escolas regulares. Via decreto, que deve ser publicado nas próximas semanas, o MEC deve tornar a escolha facultativa a alunos e famílias, dando a eles a opção de manter o aluno na escola regular, transferir para a escola especial ou estudar em uma turma especial na escola regular. A pessoa com deficiência tem que ter seu espaço adequado na classe comum, no processo de inclusão, porém, outras opções podem ser consideradas, como escolas especiais e turmas alternativas.

- Já chamado de o "Decreto da exclusão", para especializadas e entidades, ele é visto como um retrocesso à educação inclusiva no país, além de violar a Constituição ao segregar alunos – comentou o apresentador do telejornal.

Entrou a fala da professora Maria Tereza:

- O decreto é absolutamente inconstitucional e contrário a todas as conquistas que estudantes da educação especial, seus familiares e escolas inclusivas conquistaram até hoje. Qualquer forma de exclusão fere o direito à educação. A escola não pode comparar alunos, a escola deve trabalhar e desenvolver os estudantes segundo a capacidade de cada um. O público-alvo da educação especial é um público que tem que ter assistência em suas necessidades, e a escola deve buscar um ambiente para todas e todos.

Jéssica colocou as mãos na cabeça, exclamando:

- Essa não...!

* * *

No início da semana Jéssica, ao descer do carro e caminhar pela calçada da escola, notou que as florezinhas haviam renascido e estavam mais lindas do que nunca. Combinavam com o seu estado de espírito. E pareciam anunciar uma novidade.

E de fato tinha novidade. A chegada da aluna Linda. A diretora Lígia Ester chamou a professora Ione do segundo ano e a Jéssica para passar informações:

- Já há um mês estou acompanhando o processo da Linda para a nossa escola, mas isto seria para o segundo semestre e eu iria contar com vocês duas nesse processo de transferência. Só que hoje fui pega de surpresa com a chegada antecipada dela e nem tive tempo para comunicá-las antecipadamente.

- Da minha parte não tem problema dona Lígia Ester, estamos preparadas para qualquer momento e situação – disse Jéssica sempre sorrindo: - Em casos de deficiências mais complexas, é recomendável orientar professores e funcionários a conversar com as turmas sobre as mudanças que estão por vir, como a colocação de uma carteira adaptada na classe ou a presença de um intérprete durante as aulas. Mas quando a inclusão está incorporada ao dia a dia da escola como é o nosso caso, esses procedimentos se tornam menos necessários.

- Verdade. Bem, vamos falar de Linda. Ela é uma menina morena de óculos, com paralisia cerebral bem acentuada que comprometia muito os seus movimentos e fala, sendo usuária de cadeira de rodas. Muito sorridente, Linda tinha sua parte cognitiva toda preservada. Tanto que já está alfabetizada. Então estudei e vi que o melhor para ela será ficar em sua classe Ione. Tudo bem?

- Claro dona Lígia Ester, será um prazer ter essa aluna em minha turma! – Exclamou a professora: - Além do mais, a Jéssica me dará todo o suporte necessário.

- Não só dela, Ione. A Prefeitura da cidade coloca à disposição dos estudantes com comprometimento motor um auxiliar, o cuidado para ajudar nas tarefas e na higiene desses estudantes. Eu já fiz a solicitação. Agora vamos lá no portão receber a nossa nova aluna?

A van escolar chegou. O motorista com carinho pegou a cadeira de rodas, montou-a, retirou Linda de dentro do veículo a colocando na cadeira, colocou os cintos e a levou até elas. Dona Lígia Ester lhe deu um beijo de boas-vindas. Ione segurou com ternura o seu rosto com as duas mãos, dizendo olhando em seus olhos:

- Muito prazer, meu anjo! Meu nome é Ione e sou a sua nova professora.

Jéssica abaixou-se em sua frente olhando em seus olhos:

- Sabe, a nossa escola é um imenso jardim com muitas belezas raras. E você é mais uma linda flor nascendo entre rochas!!!

As duas professoras levaram a menina para a classe. Os demais alunos que ali conversavam animados esperavam a professora, pararam em silêncio e curiosos para observar aquela cadeira de rodas entrando. Ione foi logo fazendo a apresentação:

- Pessoal, esta é a Linda, a nova colega de classe de vocês. Vamos todos dar as boas-vindas à ela?

Em um gesto inesperado todos correram e deram um abraço coletivo em volta da cadeira.

- Devagar, pessoal – pediu a professora.

Na hora do intervalo Jéssica foi observar os alunos no pátio. Viu quando João foi levado até a cantina pelos colegas e um o ajudou a servir seu prato. Laurinha conversava animadamente em Libras com outras meninas que também aprendiam a linguagem de sinais. Joelma mexia e penteava os cabelos de uma amiga. Marcelo corria animadamente em um pega-pega com seus colegas.

“Como as crianças são naturalmente livres de preconceitos e inclusivas!” – Pensou alto a professora.

Kotty, aproximando-se, ouviu e completou:

- Todos somos diferentes e essas crianças são muito mais capazes do que imaginamos, Jéssica.

- Verdade Kotty. Ao ter um colega com algum tipo de deficiência, os demais estudantes passam a enxergar com naturalidade o comportamento e as características do amigo. Eles aprendem noções de tolerância, de criatividade, de perseverança, de respeito e, mais importante, entendem que o mundo pode ter perspectivas diferentes.

Após o intervalo, Jéssica foi observar a entrada de Henrique. Pediu licença à Aparecida para ficar sentada em uma carteira ao fundo. A professora da classe, com cara fechada nem respondeu, apenas fez um leve movimento de sim com a cabeça.

Todas as crianças entravam correndo e ocupavam seus lugares. Com o tumulto e o som que também vinha do corredor, Henrique ficou nervoso e começou a gritar, agitando os braços. Sua melhor amiga, uma colega de classe, percebeu a tensão dele e perguntou: 

- O que foi?

Como resposta, ela ouviu: 

- Pota. 

Percebendo o desejo dele, sua amiga anunciou para a sala: 

-Gente, vamos fechar a porta! O Henrique tá aflito com o barulho. 

Porta fechada. Henrique se acalmou e começou a prestar atenção na professora Aparecida. O diálogo de Henrique e sua amiga podia não parecer comum para duas crianças daquela idade. Ele não verbalizava, falava apenas algumas palavras, como “obrigado” e “água”. Sua dificuldade de comunicação era consequência do autismo severo, diagnosticado quando ele era pequeno. Mas isso não impedia que seus colegas o compreendessem. Conviver com uma pessoa que tenha o transtorno ensina às crianças e aos adolescentes que é possível ver o mundo sob outra perspectiva. Não é só Henrique que ganhava com o aprendizado e a socialização na escola comum. Todos que estavam à sua volta também eram modificados com um aprendizado sobre a importância de respeitar as diferenças. 

Ao se levantar para sair discretamente, Jéssica foi indagada ironicamente por Aparecida à porta:

- E aí professora, aprendeu mais alguma coisa hoje?

- Sim, essas crianças são um eterno aprendizado para nós. Veja hoje, por exemplo. Aprendemos com elas que comportamentos do autismo que julgamos como agressivos são uma maneira de expressar ou de reagir ao estímulo do ambiente.

- Mas o autismo continua sendo um grande mistério.

- Concordo professora Aparecida. Mas em linhas gerais os principais sintomas do autismo clássico, um dos quadros do Transtorno do Espectro Autista, TEA, podem ser dificuldade de interação social. Problemas no desenvolvimento de amizades, anomalia em comportamentos não-verbais, como não olhar para a pessoa com quem está falando, falta de compartilhamento de experiências, ausência de reciprocidade emotiva, não reagir diante de um colega machucado, por exemplo. As brincadeiras podem ser estereotipadas, com gestos repetitivos. Problemas na comunicação, a pessoa pode não desenvolver linguagem oral ou só falar o que tem utilidade mínima. Pode haver dificuldade na compreensão de significados do discurso. Alterações nos interesses, pode haver uma resistência grande em mudar a rotina, provocando acessos de nervosismo. As brincadeiras também são diferentes: ao brincar com um carrinho, em vez de empurrá-lo, é comum concentrar-se somente na rodinha, por exemplo.

Aparecida, diante daquela aula espontânea, ficou muda, sem argumento para querer se impor à Jéssica.

* * *

No final de semana Eduardo convidou Jéssica e Josineide para uma festa junina em um sítio de amigos. Estava uma noite muito fria, véspera de Santo Antônio. Um céu limpo, estrelado que só se podia se observar longe das luzes da cidade. 

Ao chegarem lá a professora surpreendeu-se. O sítio estava lotado. A decoração feita com bandeirolas e balões. Uma enorme fogueira ao centro do terreirão. Sanfoneiro e outros músicos tocavam animadamente. Os fogos de artifício.

- Eu nunca havia participado de uma festa assim em um sítio, Josineide. É lindo demais.

- Você ainda não viu nada, amiga!

Haviam as brincadeiras e práticas às quais os convidados eram submetidos: pau-de-sebo, lavagem dos santos, correio elegante, casamento caipira e outros.

As comidas típicas, pipoca, canjica, pamonha, bolo de milho e curau. Comidas com nomes bem peculiares, como mané pelado, pé de moleque, maçã do amor e cachorro-quente. Quentão feito com gengibre, canela e pinga.

Jéssica naturalmente ia pegando algumas comidas ou bebidas para Eduardo e auxiliando quando ele necessitava. Sentados em uma mesa, Josineide pediu licença para ir conversar com as amigas. Jéssica comentou com ele:

- Hoje li no jornal o artigo onde você explicou a origem das festas juninas. Interessante que você destacou que nesse período de festas, alguns supersticiosos aproveitam para realizar simpatias. Existem rituais para pedir namorado, para afastar a inveja e até para se livrar de verrugas.

A conversa foi interrompida pela voz do sanfoneiro ao microfone:

- Pessoal, chegou o momento da nossa quadrilha e ela está aberta a todos. Formem suas duplas e venham para o terreirão chacoalhar os esqueletos.

- Dança comigo, Eduardo? – Pediu a moça empolgada.

- Eu??? – Ele ficou surpreso com o convite: - Nunca ninguém quis dançar comigo.

- Mas agora tem. Vem...

Jéssica o levou pelas mãos. Indo no limite dele, dançaram toda a quadrilha animadamente e sorrindo. Para Eduardo era uma experiência nova e feliz. Animado, inspirado por aquele momento, ao acabar a quadrilha, ficaram parados ali mesmo. Ele segurou em suas duas mãos e abriu o seu coração:

- Sabe Jéssica, eu nunca fiz rituais para pedir namorada. Mas desde o primeiro momento em que te vi, uma coisa muito bonita entrou em mim. A cada dia eu te gosto e te admiro ainda mais. Você aceita namorar comigo?

Ela o olhou por alguns instantes em silêncio, fixando em seus olhos. Depois respondeu sorrindo:

- Eduardo, você é um rapaz muito especial. Claro que quero ser a sua namorada!

Abraçaram-se forte. Deram o primeiro beijo. E todas as demais pessoas formaram um círculo em volta e aplaudiram o novo casal que ali nascia.

* * *

Durante a semana a professora Aparecida tirou uma licença por motivo de saúde. Marta, que vinha observando o trabalho e a dedicação da professora Jéssica junto aos alunos inclusivos, sobretudo o progresso deles, tomou coragem e foi até a sala de AEE conversar com ela:

- Então, eu gostaria de lhe pedir orientações Jéssica de como eu posso trabalhar com a Joelma.

- Muito legal a sua iniciativa professora Marta. Sabe, o aluno com Síndrome de Down, como qualquer outro aluno, precisa desenvolver a sua criatividade, a capacidade de conhecer o mundo e a si mesmo. O nosso maior engano é generalizar a capacidade intelectual das pessoas com deficiência em níveis sempre muito baixos, carregados de preconceitos sobre a possibilidade que esses alunos têm de progredir na escola, acompanhando os colegas. 

- São preconceitos e visões errôneas que muitas vezes trazemos culturalmente... Desse engano derivam todas as ações educativas que desconsideram o fato de que cada pessoa é uma pessoa, que tem antecedentes de formação, experiências de vida e que sempre é capaz de aprender e de exprimir um conhecimento.

- Exatamente Marta! Mesmo com dificuldades e lentidão no desenvolvimento dos alunos com deficiências intelectuais, estudos demonstram que o intelecto reage satisfatoriamente a solicitações adequadas de estímulos. Esses alunos têm, como os demais, dificuldades e potencialidades. O trabalho pedagógico com estas pessoas consiste em reforçar e fortalecer o desenvolvimento de suas potencialidades, proporcionando os apoios necessários em suas dificuldades. 

- E como posso atuar no caso da Joelma, Jéssica?

- Podemos adaptar as práticas escolares para que ela consiga se desenvolver, ao máximo, suas capacidades, oferecendo-lhe um ambiente de aprendizagem que os ajude a abandonar a postura passiva de receptores de conhecimento, assim planejado.

- Eu já andei fazendo uma pesquisa sobre isso. Os alunos com Síndrome de Down precisam de ambientes de aula que favoreçam a aprendizagem, tais como, atelier, cantinhos, oficinas, etc. Do desenvolvimento de habilidades adaptativas, sociais e de comunicação. Do desenvolvimento de hábitos de cuidado pessoal e autonomia.

- Estou gostando de ver o seu envolvimento, Marta! Sabe, uma escola comum sempre teve como função principal a produção do conhecimento. Mas a inclusão escolar de alunos com esse perfil traz um desafio à escola, traçado pelo desafio particular de lidar com o saber, distante do padrão considerado ideal pela comunidade escolar, sendo essas as adaptações curriculares.

- Obrigado Jéssica, será muito importante para eu poder contar com sua ajuda – reconheceu Marta, dizendo um pouco sem jeito: - Só quero lhe pedir mais um favorzinho. Por enquanto não comenta nada com a professora Aparecida que eu lhe procurei, tá?

- Pode deixar, Marta – concordou Jéssica sorrindo: - O importante é que o medo do desconhecido começa a dar lugar à busca do conhecimento!

Enfim chegou a noite da festa junina da escola. Era uma noite de sexta-feira e todas as famílias dos alunos compareceram. A arquibancada da quadra de esporte ficou lotada.

Muitas apresentações com alunos de todas as turmas. 

E entre elas Laurinha integrou o coral de sua turma que cantava uma música regional, enquanto ela apresentava a letra em Libras.  

Marcelo, animado como nunca, dançou um número de catira. 

João recitou uma poesia sertaneja emocionando a todos.

Chegou a hora da quadrilha. Joelma foi escalada para ser a noiva. Entre mais de uma centena de crianças Laurinha, Marcelo, João e até a recém-chegada Linda em sua cadeira de rodas. Menos Henrique que preferiu ficar no canto isolado da arquibancada no colo de sua mãe tampando os ouvidos fortemente com as mãos.

- Olha como eles estão todos animados – comentou feliz Jéssica com a professora Paula.

- Pois é. Incluir não significa colocar apenas os alunos na escola. É preciso integrá-los em todas as atividades. Mesmo que eles tenham algumas limitações para fazer algo, isso nunca pode ser argumento para não deixá-los fora de nada!

PRÓXIMO CAPÍTULO

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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