6 - PARA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DE AMOR!

 MEMÓRIAS EM PRETO E BRANCO DO MEU POSSÍVEL PRIMEIRO AMOR!

Uma vez, fui caminhar com o meu cunhado pela São João, embaixo do Minhocão, naquelas casas de móveis antigos. Estava procurando um modelo de armário de livros dos tempos de uma São Paulo ainda romântica. Certo era que a tarde estava quente. Entramos em uma rua paralela, onde nosso carro ficou estacionado. Havia um barzinho com mesas na calçada. Sentamos para tomar algo. Um prédio bem à minha frente, convocou-me para recordações esquecidas. 

Voltei ao início dos anos 1970. Naquele prédio morava uma colega da AACD. Éramos alunos semi-internos. Passávamos quase dez horas por dia na instituição, estudando, fazendo terapias, almoços coletivos no refeitório, horas de lazer na área externa e muitas atividades. Tinha sim, um quê de militarismo. É hilário lembrar que, às sextas-feiras, durante o culto às bandeiras – do Brasil, de São Paulo e da AACD -, um monte de gente em cadeiras de rodas, muletas, outros aparelhos e limitações, todos marchando. À nossa maneira, também louvávamos a Pátria amada, idolatrada, salve, salve... 

No final do dia, peruas kombis beges com logotipo da AACD, inconfundíveis na época nas ruas paulistanas, partiam cheias para entregar cada um em seus respectivos lares. Quanto à minha amiga, não me lembro corretamente qual era a sua deficiência. Sei que não andava, era carregada e retirada no colo de dentro da perua. Também não me recordo sua fisionomia, mas nunca esqueci o seu nome: Andréia! Vestia-se bem, era filha de um homem que tinha um alto cargo no Exército. (Aliás, é interessante notar que estávamos no auge do Militarismo. Será que ele era um torturador e eu corria o risco em querer namorar a filha dele? Eu, na época pequeno, mas que depois, durante um tempo, fui um projeto de marxista, “amigo de boteco” de Marx, Vygotsky e Wallon... Bem, deixemos isso pra lá!) 

Eu não era o único que se interessava por ela. Na mesma perua haviam vários outros meninos afim de Andréia. Um menino chamado João, que nem ligava para ela, mas era justamente o único que ela declarava gostar. Na vida infantil já há dessas ironias drummondianas. Contrariando o título acima, não vou afirmar que ela foi o meu primeiro amor. Mesmo porque, éramos crianças em torno dos seis, sete anos. Nem se quer sabíamos o que significava gostar, namorar. De qualquer forma, foi a primeira vez que fui despertado para uma menina. 

Por outro lado, não acredito que nossos amores possam ser ordenados em uma espécie de fila indiana. Cada amor é único, acontecendo em momentos internos e contextos externos distintos de nossa história, não sendo passíveis de comparações. Do mesmo modo, já desistir de classificar algum como o “grande amor da minha vida”, pois sempre somos surpreendidos com sentimentos novos e maduros nas esquinas de nossas existências. Pelo menos, isso é passível há quem não se retrai, abrindo o seu coração às novas possibilidades!

Recordações dos primeiros anos de minha vida sempre voltam em preto e branco. Quando eu não estava na AACD, ficava dentro do apartamento assistindo a muita televisão que ainda não era em cores. Talvez esteja aí a perpetuação dessas memórias como se fossem imagens de velhos programas, desenhos e filmes que nos eram “gentilmente” liberados pelos sensores. Fato é que lembranças como essa de Andréia, colocam o dedo no meu nariz, dizendo-me que já tenho material vivencial para escrever memórias!

O POETA QUE “FICOU” COM A MOÇA QUE NÃO GOSTAVA DE POESIAS

Grande parte da minha vida amorosa é mais uma comédia de várias passagens engraçadas. Por exemplo, no início da minha adolescência, fase em que queremos experimentar de tudo, fui algumas vezes em uma cartomante que tinha em Guaraçaí. Ela sempre dizia que havia uma moça que morria de amores por mim e eu receberia uma carta de amor. Hoje penso que essa moça realmente morreu, pois nunca recebi essa tal carta...

Há uns 20 anos atrás eu me apaixonei por uma colega de trabalho. Uma mulher linda, fina, estudada, alta, com um corpão que não era para o meu bico. Só que a gente é teimoso. Às vezes pagamos para quebrar a cara! E paguei...

Um dia a convidei para almoçar e ela aceitou... O tonto aqui escolheu o restaurante mais caro de Bauru e ainda fui de terno e gravata. Esse restaurante era frequentado por empresários e gente da sociedade. Quando entramos, o pessoal parou e todos olharam para nós, o ambiente ficou em silêncio. O garçom nos levou para uma mesa e conversávamos descontraidamente, riamos, enfim...

Eu percebia os olhares desconcertantes e curiosos deles, logo saquei que pensavam mais ou menos assim: “Pô, esse deficiente deve ser muito rico, pra está com uma mulherona dessa!”

Naquele dia eu paguei literalmente para quebrar a cara! Além da conta muito alta, eu não conquistei a mulher.

Tempos depois, já morando em São Paulo, resolvi entrar nesses sites de relacionamento, acreditando que fazer os primeiros contatos virtuais com as mulheres poderiam quebrar um pouco os preconceitos e estigmas de quem me visse pela primeira vez ao vivo. O que quase quebrou foi a minha cabeça. Troquei mensagens com quase umas duzentas mulheres no período de uns cinco anos. 

E acabei desenvolvendo uma tática. Começava a conversar normalmente e só lá para o terceiro ou quarto contato eu revelava que tinha uma deficiência motora, era um pc. A grande maioria nunca mais me respondia e eu dizia rindo para mim mesmo: “Vixi, espantei mais uma!!!”

Conheci algumas pessoalmente, ganhei amizades. Só que grande parte dessas que conheci eram pessoas problemáticas e com muitos conflitos psíquicos. Cheguei à conclusão que talvez, de forma consciente ou mesmo inconsciente, elas se aproximavam de mim como um pedido de ajuda. Então mudei a profissão do meu perfil de psicólogo para professor. Depois dessa mudança nenhuma mulher me deu mais atenção. Por que será, né?

Mas nesse contexto achei uma pessoa interessante. Aos 41 anos conheci uma moça com 47 anos e durante duas semanas a nossa troca de e-mails foi intensa. O primeiro encontro foi um jantar na véspera do Dia dos Namorados que vale a pena ser relembrado essa passagem...

Na semana que antecedeu, enviei-lhe três poesias. Ela veio e foi um encanto à primeira vista de minha parte. Logo de cara, a presenteei com a minha “Poética Completa”, obra que reúne os meus quatros primeiros livros de poesias. Fomos ao jantar. Levei quatro sonetos que eu havia escrito para ela. Durante o jantar, um amigo recitou esses sonetos dedicados à ela. Fizeram até um fundo musical com piano e violino. 

Quase no final, num papo bem descontraído, ela, sem perceber, soltou: “Eu não gosto de poesias, sou uma mulher prática!” 

Olhei-a seriamente e pensei rindo por dentro: “Essa mulher está de sacanagem comigo. Ela não sabe do meu esforço desde os sete anos para estudar poesia? Ela não sabe das longas horas que deixei de brincar com meus amigos para estudar na biblioteca pública? Que enfrentei horas em ônibus coletivos para ir às oficinas e cursos? Ela não sabe que o genial Luiz Vitor Martinello cancelou compromissos ou deixou de descansar para me dar aulas particulares com muitas cervejas e Coca-Cola? Ela não sabe que esperei por três décadas para lhe fazer poesias?” 

Naquele momento eu deveria ter pedido de volta a minha “Poética Completa” de volta e saído correndo. Mas não adiantaria. Ela era tinhosa, viria atrás para questionar a minha fuga! 

Claro, estou brincando. A moça não tinha o menor dever de saber nada disso. Aliás, naquele momento, ela me mostrou uma das suas maiores qualidades: a sinceridade!

Naquele jantar ela me fez o primeiro pedido para eu tirar a barba. Em minhas observações ao longo dos anos fui percebendo que ter barba faz toda a diferença. De fato eu comprovo isso na prática. Quando estou sem barba, sou tratado pelas pessoas como se eu fosse alguém com deficiência intelectual. Nas ruas, no comércio, em restaurantes, raramente as pessoas falam diretamente comigo, mas só se dirigem ao meu acompanhante. Quando estou de barba, melhor vestido, acho que elas pensam que sou um homem que teve um AVC ou um derrame e falam diretamente comigo.

Voltando ao meu rápido caso da moça de 47 anos, no próximo final de semana fomos passar uma tarde no shopping. Foi outra experiência bem bacana, mesmo não sendo namorados, andávamos abraçados. Dava para ver o espanto, a curiosidade nos rostos das pessoas nos observando, achando diferente uma moça sem deficiência andando romanticamente com um rapaz com paralisia cerebral. Fomos à praça de alimentação lotada. Sentamos lado a lado, muito animados, comendo lanche, doces, rindo, trocando nossas primeiras carícias. E o pessoal das mesas em volta olhando curiosos, mesmo que disfarçadamente.

Uma semana depois do nosso primeiro encontro, ficamos pela primeira vez, quando no escurinho da sala de minha casa rolou o nosso primeiro beijo que também foi o meu primeiro beijo na boca. 

Aquele rápido relacionamento de um mês e meio foi uma novidade muito grande, como se eu fosse colocado diante de um espelho para ver minhas próprias autolimitações perante minhas deficiências físico-motoras. Permitiu-me a descobrir minhas possibilidades como um homem. Ao lado dela descobri que sou capaz de viver uma relação amorosa, a beijar na boca, a cariciá-la. Sentia-me seguro ao seu lado para me soltar sem medo de ser repreendido, podendo brincar um com o outro. 

Saíamos em público, frequentamos bares e restaurantes sempre abraçados e de mãos dadas e como são interessantes os olhares alheios de espanto, uma moça dita normal namorando um rapaz com dificuldades motoras! 

Aprendia a cada dia, recebendo dela um tratamento realmente de um homem sem qualquer tipo de deficiência. Quando errava, eu tomava altas broncas, era sacudido pela minha amável “marruá” para não temer, entregar-me cada vez mais no relacionamento, aprendendo como melhor corresponder às suas expectativas de mulher.

Até nas suas correções eu aprendia que sou um homem de infinitas possibilidades, o que refletia na minha coordenação motora, andava melhor, falava melhor, voltei para fono, para terapias, pois queria cada vez mais estar melhor para eu mesmo e depois para ela, retribuindo e fazendo na sua vida tão-bem que ela me fazia.

Só que desde o começo eu tinha a sensação que tudo era apenas temporário.

E foi... Assim como ela surgiu do nada, no nada se foi, sendo hoje uma lembrança na minha vida! E tempos depois, por uma dessas ironias da vida, encontrei o exemplar da minha “Poética Completa” que lhe presenteei com dedicatória e tudo sendo vendido em um sebo em Santo André.

ESPEREI UM AMOR E ELE ME TROUXE CRESCIMENTOS

Como todo mundo minha vida também teve passagens tristes de paixões que não deram certo. Cheguei até ser impedido de namorar uma moça por preconceitos religiosos, cujo seu pai, que ocupava o ministério maior em uma igreja, chegou ao cúmulo de alegar “que era pecado uma moça normal namorar um rapaz deficiente”. Só que são passagens que não merecem ser relatadas. Histórias de amor que não deram certo, não merecem virar histórias!

Só que esta que vou contar agora é a merecedora de todas. A história da minha primeira namorada...

Durante a minha adolescência, por motivos pessoais, eu não conseguia ter namoradas e nem o interesse das meninas. Eu me achava rejeitado por ter uma deficiência motora. Fui me retraindo, ficando pelos cantos nos bailes, festas, na escola. Eu era apenas um bom amigo para elas.

O fato de eu ter mudado algumas vezes de cidades, contribuiu para que não criasse raiz, círculos de amizades, principalmente com o sexo feminino, pois muitas vezes os namoros e amores nascem das convivências. E assim eu só me realizava sentimentalmente como um poeta no mundo das fantasias.

A vida me permitiu estudar muito. Vários cursos, formações acadêmicas, livros publicados, trabalhos em diversas publicações, escritor, poeta, jornalista, cientista, psicólogo, psicanalista... Centenas de pessoas me elogiando, dizendo que eu era uma pessoa admirável. E eu me questionava: se eu era uma pessoa tão bacana, esforçado, que vivia só para ajudar as pessoas, por que então nenhuma moça se interessava por mim como um homem?

Acabei me escondendo cada vez mais do amor. Sublinhei as minhas faltas e carências emocionais em uma grande produção de textos. Passei a acreditar em um mundo cheio de faz-de-conta, esperando viver relacionamentos onde tudo seria lindo, belo e perfeito. E o pior, passei a acreditar que o amor chegaria como em um passe de mágica na minha vida e tudo aconteceria naturalmente sem eu precisar correr atrás!

Talvez pela minha personalidade de poeta, facilidade de viajar pelo mundo da ficção, sempre tive muitos amores só para mim sem declará-los a ninguém. Tornei-me um grande especialista no amor-encantamento descrito há milênios por Platão. Aquele amor que guardamos só para nós, onde apenas admirar a pessoa nos alimenta e nos alegra sentimentalmente, sem ter nenhuma necessidade de ser declarado ou ter conjunção carnal. Amor idealizado romanticamente que acho que representei tão-bem na minha obra “O Homem Que Amou Em Silêncio”. Aliás, foram tantas as pessoas que amei em silêncio que renderiam muitas obras literárias.

Os anos passaram e o amor não chegou. Comecei a frequentar vários desses sites de namoro. Sem nenhum critério, passei a atirar para todos os lados. Como disse acima, cheguei a trocar mais de duzentas mensagens com mulheres. Talvez por minha profissão, muitas queriam mesmo era conversar com o terapeuta do que propriamente com o homem. Foi onde percebi mais um erro meu. Eu já ia para esses encontros na posição de amigo e nunca na posição de um homem procurando uma mulher.

Nesse período eu fiquei muito amigo de um grande psicanalista. Passamos a frequentar a casa um do outro e ter liberdade de nos falarmos abertamente, trocando conhecimentos. Foi quando ele me disse que o meu problema era eu mesmo. Por todos esses anos sempre trabalhei sozinho, tinha um espaço só meu onde podia escrever, estudar, curtir meus filmes, passar longos tempos comigo mesmo.

Foi quando percebi que, mesmo desejando alguém para amar, de forma inconsciente eu não queria “dividi” o meu mundo com ninguém...

Isto me levou à minha primeira abertura. E ela veio pela internet. Recebi uma mensagem de uma moça de Brasília chamada Ana Maria. Lembro-me que o meu primeiro comportamento foi de fuga. Mas ela acreditando em uma história comigo, foi muito delicada e aumentamos a comunicação. Em um espaço de duas semanas estávamos namorando e conversando direto via internet. Foi dela a primeira iniciativa de pegar um avião e vir à São Paulo me conhecer pessoalmente. 

No começo tudo foram flores, principalmente para mim que estava vivendo o meu primeiro namoro. Mas em um relacionamento são dois universos particulares que se encontram. Começamos a conhecer um ao outro, as diferenças e necessidades femininas e masculinas. Temos que aprender a agradar ao parceiro e ao mesmo tempo nos satisfazermos. Até nas discussões podemos encarar como uma forma de perceber no outro uma maneira dele demonstrar o que necessita ou deseja e não percebermos de forma natural. Casal que também não briga não vai pra frente. Relacionar-se é arte de, às vezes, ceder um em função do outro, sem, contudo, perdermos a nossa individualidade.

Esse foi um dos crescimentos que a Ana Maria trouxe para minha vida. Eu que sonhava com um romance de conto-de-fadas, onde tudo seria belo e maravilhoso não existia. Relacionar-se de fato tem que ser um mundo de descobertas, transformações e adaptação um ao outro. Cresci ao perceber que, para se viver um grande amor, viver no mundo real de um relacionamento e em suas descobertas diárias é muito melhor do que nos refugiarmos em nossos mundos idealizados!

Ana Maria também me trouxe crescimentos profissionais. Minha vida toda eu estudei muito, tive várias formações, atuei sempre em ajudar ao próximo, em lutar por ideais de um mundo melhor para todos e nunca me preocupava comigo mesmo e em ter um retorno financeiro daquilo que eu realizava. Para mim o pouco que eu recebia estava satisfeito por cobrir minhas despesas básicas.

Isto não é errado. Mas esse amor me trouxe o entendimento que eu me dediquei muito durante muitos anos e merecia ser mais bem remunerado por isto. Até porque minhas intenções eram de crescer nesse relacionamento. Juntos comprarmos um apartamento, montar um lar, ser uma família. E isto requer dinheiro. 

Na busca de novas possibilidades, encontrei-me com o mundo do marketing digital. Apaixonei-me por essa área. Na época comecei a estudar, fazer cursos, desenvolver alguns projetos que estão crescendo, começando a dar lucros por meio de uma pequena empresa de empreendimento digital, administrando portais, blogs e uma livraria.

Comecei a fazer a minha Certificação em Coaching. E foi a Ana Maria quem me apresentou essa nova profissão, fascinando-me cada vez mais por suas possibilidades de realmente poder ajudar as pessoas. 

Continuo crescendo como pessoa e como profissional. Por razões pessoais eu e Ana Maria não estamos mais juntos enquanto namorados. Mas aprendemos muito mutuamente e continuamos crescendo alimentados por uma grande amizade!

DEFICIÊNCIA, INCLUSÃO, NAMORO E CASAMENTO

Hoje vejo que o que me impedia ter relacionamentos era eu mesmo me autolimitando, não me permitindo ou não acreditando em mim como sendo capaz. Quando passei a me conhecer melhor, saber o que eu realmente queria e me abrir para essa possibilidade, essa área se abriu em minha vida, trazendo consigo crescimentos e meus primeiros relacionamentos reais.

Nas duas últimas décadas as políticas de Inclusão gera inúmeras conquistas positivas e espaços em setores como educação, mercado de trabalho, eliminação de barreiras arquitetônicas, dentre outras. Com isto, muitas pessoas com deficiência deixaram os isolamentos e estão presentes em todos os lugares e conquistando infinitas possibilidades. Essa convivência diária em escolas, trabalhos e diversões entre pessoas com e sem deficiência estreita muitos laços de amizades, paqueras, encantamentos e estar permitindo surgir muitas histórias de amor e casamentos. Sim, porque relacionamentos amorosos nascem basicamente da convivência entre pessoas. 

Esses benefícios de todas as formas de inclusão podem ser mais amplas do que parece. Até no amor.

Poderão ainda existir as barreiras atitudinais. Chegará a hora do casal assumir o relacionamento. Algumas vezes uma pessoa sem deficiência que se propõe a entrar num relacionamento dessa natureza, poderá sofrer algumas consequências iniciais. Um boicote, oposição de sua família. O afastamento de alguns de seus amigos. Ser motivo de algumas chacotas. Isso porque ainda parte da sociedade mantém muitos conceitos herdados culturalmente. Se a pessoa com deficiência for o homem, a família pode acreditar que ele não será capaz de prover o sustento da casa, que não será capaz de cumprir com suas funções de homem reprodutor, que será um peso na vida da moça.  Se a pessoa com deficiência for a mulher, a família poderá acreditar que ela não será capaz de cuidar da casa, não será capaz de gerar filhos, ou caso eles nasçam, essa moça não será capaz de cuidar e educá-los. E outros pensamentos dessa natureza...

Nesse contexto a pessoa sem deficiência do relacionamento terá uma dessas duas atitudes de acordo com sua autoestima. Se ela for alguém confiante e segura de suas vontades, não ligará para as opiniões alheias, mesmo sendo de sua família. Apostará e manterá seu relacionamento afetivo, vivendo todas as possibilidades boas e os tropeços como qualquer casal que está se descobrindo, fazendo planos para uma vida a dois. E se os sentimentos forem verdadeiros, o tempo se encarregará de derrubar barreiras, preconceitos e gerará aceitação por parte das demais pessoas.

Mas se a pessoa tiver baixa autoestima, essas reprovações externas poderão lhe trazer sofrimentos. Assim, pessoas que sofrem preconceitos por namorarem pessoas com deficiência poderão escolher dois caminhos. Ceder às opiniões alheias e renunciar àquele relacionamento e, consequentemente, renunciar a si mesma, as suas vontades e sentimentos, permanecendo eterna refém das pressões externas, sem coragem de viver a sua própria vida, sem acreditar em seus potenciais e capacidade de dar resposta às questões de sua própria vida. O outro caminho será a pessoa optar por viver as possibilidades desse relacionamento fortalecendo a sua autoestima que só pode ser construída dentro dela, rumo a uma vida satisfatória, legal, gostosa de ser vivida. 

PRÓXIMO CAPÍTULO

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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