O ASTRONAUTA QUE VENDE BANANAS

SINOPSE: Narrado por um garoto americano John Mix, ele relata a história de sua família, começando pelo seu pai, que estudou para ser um astronauta, entrou para NASA, chegando a integrar uma missão ao espaço. Depois casou-se, tornou-se um professor universitário. Juntos, pai, mãe e o pequeno John vieram para o Brasil e a vida tomou rumo inesperado...

Em seu contexto, há noções de alegria e orgulho, mas também de dificuldades e frustrações, oferecendo ao leitor um tema tão forte nos dias atuais: o desemprego e a necessidade de uma reciclagem profissional, onde muitas pessoas precisam mudar de atividades para continuarem trabalhando. E, muitas vezes, essas mudanças permitem descobrir novas alegrias e paz numa vida mais tranquila e calma.

Dirigido ao público de crianças cursando o Ensino Fundamental I, o enredo as leva à noção de um texto-relato e seus princípios de começo-meio-e-fim, onde a palavra relato aparece por várias vezes em seu decorrer em primeira pessoa. O menino relator por fim faz uma combinação de fantasia com a realidade, demonstrando que, por mais real que seja a vida, sempre haverá espaço para o sonho.

  

1 - Papo de amigo

Meu nome é John Mix. Isto mesmo. Tenho esse nome, porque nasci nos Estados Unidos da América. Mas não pense que tenho hábitos da cultura americana. Quando ainda era recém-nascido, meus pais tiveram que mudar para o Brasil. Acabei vindo de embrulho. Ou seja, uma coisinha bem pequinininha no colo de minha mãe.

Hoje estou com nove anos de idade. Tenho absorvido toda a cultura brasileira! Suas alegrias, encantos, sabedorias populares; mas também, tomo consciência das dificuldades e dessabores do nosso povo...!

Concordo! Você deve estar curioso para saber o que uma família americana está fazendo no Brasil. Calma, vou lhe explicar, fazendo o meu relato...

Meu pai é uma pessoa muito legal. Desde pequeno, ele sempre teve o costume de reservar alguns momentos do dia para se sentar comigo e contar histórias, conto-de­-fadas, narrativas infantis, anedotas, lendas e muito mais. E foi, justamente em um desses momentos, que meu pai resolveu me contar uma história bem diferente. A sua própria história!

2 - A história de meu pai

Desde pequeno, ele sonhou em ser um astronauta. Decidido a correr atrás de seu sonho, começou a se dedicar aos estudos. Estudou muito. Quase não se divertia. Passava intermináveis fins-de-semanas, feriados e todos os momentos disponíveis em cima dos livros. Tinha que entrar na faculdade para estudar física, astronomia, programas espaciais, ufologia e outras matérias que eu ainda nem sei o que significam. Bem, o importante é que ele conseguiu.

Já dentro da universidade, seu desempenho foi ainda maior. Tal era a sua dedicação, que em pouco tempo se destacou dentre os demais alunos. Graças a isto, conseguiu o que para muitos foi uma surpresa, um estágio na NASA, principal centro espacial do mundo, localizada lá em Cabo Canaveral, na Flórida.

Pegou aquela oportunidade com tanto amor e vontade, assim como devem ser todas as coisas que fazemos na vida. O resultado mais uma vez foi positivo. Após a sua formatura, foi contratado pela própria NASA. Passou a integrar pesquisas e programas espaciais. Logo então veio a grande surpresa! Depois de muito tempo de estudos e treinamentos, meu pai havia sido escalado para fazer parte da tripulação de um foguete que iria ao espaço colocar alguns satélites artificiais na órbita em volta do planeta Terra. Foi um dos momentos de maiores emoções da vida dele...
 

3 - O lançamento e o espaço

Os preparativos e treinamentos foram mais intensivos ainda. Sua vida passou a se resumir naquele acontecimento. Até que chegou o dia do lançamento. Com aquela pesada e esquisita roupa prateada e capacete, ele com os demais colegas se dirigiram para embarcar no foguete X-500. Havia uma tensão muito grande por parte de todos na estação de lançamento.

A contagem regressiva começou e o foguete foi lançado. Sua velocidade era tanta, distanciava-se rapidamente do solo, rumo ao espaço. Logo deixaram a atmosfera que, segundo meu pai, é a camada de ar que envolve o nosso planeta. Ou seja, atmosfera é a superfície da Terra, sendo o ar que nós e os demais seres vivos respiramos!

Voltando à história, a espaçonave logo rompeu o espaço extra-atmosférico, entrando em órbita em volta da Terra. A visão que ele descreve toda vez que conta esse fato é impressionante. Tudo era lindo e imenso. O espaço não têm limites, é infinito.

Apesar dos astronautas serem privilegiados, nós aqui debaixo não precisamos ser espaçonautas para conhecer o espaço. Ele, o espaço, sempre se oferece aos olhares curiosos de nós terráqueos. Principalmente, na clareza de uma noite iluminada sem a presença de nuvens e poluição. Quem de nós já não passou um bom tempo olhando pra cima, observando o céu durante a noite? Observando as estrelas? Às vezes, elas são tantas que o céu até parece sardento...

4 - Vida de professor universitário

Concluída a sua missão espacial, meu pai e seus companheiros foram recebidos como heróis. Tiveram seus poucos dias de fama. Mas como tudo nesta vida, caíram no esquecimento. Um outro programa espacial ainda maior começou a ser desenvolvido. Só que dessa vez não havia mais lugar para meu pai, embora ele ainda fosse novo.

Após se desligar da NASA, começou a procurar outra atividade. Graças aos seus estudos e experiência como astronauta - mesmo de uma única viagem -, conseguiu a vaga de professor em uma importante universidade americana. Não consigo lembrar o nome por ser inglês, mas vamos em frente com o meu relato.

Logo na primeira semana lecionando, meu pai teve que buscar alguns livros na biblioteca da universidade. Uma linda moça lhe atendeu. Depois, a imagem dela não saia de sua mente. Sempre encontrava uma desculpa para ir à biblioteca vê-la. Até títulos de livros ele inventou só para fazê-la procurar enquanto a observava. Também chegaram a se sentar na mesma mesa da cantina. O amor aconteceu... Hoje ela é minha mãe...

5 - A vinda para o Brasil

Dois anos após o casamento, minha mãe engravidou de mim. Assim que nasci, meu pai recebeu um irrecusável convite para lecionar numa importante universidade brasileira. Não teve dúvidas. Viemos todos.

Aqui tudo era novidade para meus pais. Desde a cultura até a realidade do povo brasileiro.

No novo emprego, meu pai foi recebido com admiração e respeito. Afinal, ele não se tratava de um professor apenas com sabedoria teórica; mas sim, de um ex-astronauta com sua experiência pessoal para repassar aos seus alunos.

Fomos morar em um apartamento perto da universidade. Só que meus pais queriam mais. Queriam fugir da vida agitada da grande cidade. Pelo menos, aos fins-de-semana. Foi quando, juntando algumas economias, compraram um sítio perto da cidade.

Como é gostoso o nosso sítio. Esperávamos a semana passar para, no sábado e domingo estarmos lá. Uma casa tranquila e aconchegante. Às vezes, meu pai ficava estudando, ou corrigindo trabalhos e provas de seus alunos; outras, brincava comigo e contava histórias.

O ar daquele ambiente parecia inspirar minha mãe, que fazia cada prato delicioso.

Um fato importante havia no sítio. Devido ele ser na serra, era muito grande a plantação de bananais em nossas terras. Achávamos isso muito interessante, pois além de ser uma fruta bonita, era totalmente tropical. De vez em quando, até plantávamos outras mudas de bananeiras.

Nas minhas idas ao sítio, descobri muitas coisas como animais e plantas, a importância da natureza e como respeitá-la.

6 - O desemprego

Os dias, os meses, e os anos foram passando... Fui crescendo, até que entrei para uma escola de educação infantil. Tinha muitos amiguinhos. Meu maior orgulho era contar para eles que eu era filho de um ex-astronauta e sua aventura no espaço. Alguns acreditavam em mim; outros achavam graça e duvidavam. Porém, isso não me importava. Eu sabia que o que estava dizendo era verdade! E quem diz a verdade não deve temer os que duvidam de tudo.

Assim era a nossa vida. Durante a semana, meu pai lecionando. Minha mãe cuidando dos afazeres domésticos. Eu, começando a vida de estudante. Nos fins-de-semana íamos todos para o sítio. Às vezes, meus pais até permitiam que eu levasse meus amigos.

Só que a vida dá volta... A universidade onde meu pai trabalhava era particular e começou a passar por grandes dificuldades financeiras, devido a inadimplência de muitos alunos sem condições de pagar as mensalidades. O dinheiro começava a faltar. Uma demissão em massa foi necessária. Muita gente foi mandada embora. Inclusive o meu pai.

A princípio ele não ficou nervoso. Passou a procurar outro emprego e a enviar o seu currículo profissional. Só que a situação do nosso país não estava fácil. Muitos estavam perdendo os empregos e ninguém estava contratando novos funcionários. O ânimo lá em casa começou a mudar. Mas eu entendia o porquê. A situação começou a preocupar meus pais. As contas mensais começavam a vencer e as nossas economias terminando.

Foi quando eles tomaram uma grande decisão. Iríamos mudar de vez para o sítio. Assim, fugiríamos do aluguel e do condomínio do apartamento. E o dinheiro que nos restava, daria para viver por um bom tempo, até meu pai encontrar outra ocupação.

7 - Nasce o vendedor de bananas

Foi uma mudança brusca, se bem que eu gostava muito do nosso sítio. Porém não me imaginava morando lá definitivamente.

Os dias foram passando. Nenhuma empresa ou faculdade chamava meu pai para trabalhar novamente. Ele até fazia alguns contatos, mas nada. Minha mãe, com o seu jeitinho feminino, mantinha a calma e a esperança de nossa família.

Até que um dia, um homem gordo, meia idade, chapéu de palha, botinas e muito simpático, com um caminhão bem usado, apareceu em nossa casa. Queria conversar com meu pai. Se identificou como um feirante que gostaria de comprar as bananas do nosso sítio para revendê-las em feiras livres.

No começo, papai até achou aquilo muito engraçado. Aceitou fazer negócio e um caminhão com grandes cachos de bananas foi vendido. Aquela região já teve grandes e intermináveis bananais; foram todos sendo destruídos, dando lugar à pastos para a criação de gados. O meu pai foi o único que manteve o seu bananal intacto e, por isto, era o único em toda a redondeza. E, como ele às vezes replantava mudas, o nosso bananal nunca diminuía. Pelo contrário, sempre aumentava.

A novidade logo correu a vizinhança. A fruta era de boa qualidade. Outras pessoas interessadas em adquirir nossas bananas, começavam a frequentar o nosso sítio. Já era grande o movimento. Tivemos até que contratar funcionários para ajudar a cultivar e a colher as enormes pencas produzidas.

 8 - O sonho

A movimentação aqui passou a ser muito grande. A tranquilidade que se resumia em nós três, foi invadida pelos muitos clientes e funcionários do sítio.

A princípio, achei tudo meio esquisito. Já estava na primeira série em uma escola de uma pequena cidade perto dali. Como explicar para os meus colegas que aquele vendedor de bananas era um professor universitário, que um dia já foi astronauta e trabalhou na NASA?

Porém, meu pai estava tão feliz com os negócios que tomou outra grande decisão. Iria aposentar de vez o seu passado e carreira intelectual, para viver ali no sítio, tranquilo, cultivando bananas. Minha mãe, também cansada da rotina desde menina nas grandes cidades, amou a ideia. Foi quando entendi que a maior felicidade para alguém, é conquistar o seu espaço onde se sinta bem e fazendo o que gosta.

Quanto ao passado de meu pai, vou guardar e sempre irei contar com muito orgulho. O mundo caminha em passos acelerados. Os programas espaciais estão cada vez mais avançados. Dizem que, num futuro próximo, todos os homens poderão viajar em ônibus espaciais. Não que isso será uma ficção científica, com espaçonaves, mutantes, cidades submarinas, pistolas desintegradoras, impérios galácticos, viagens no tempo, supercomputadores e muito mais. Será uma realidade. Dizem que nós seres humanos vamos habitar outros planetas. Aí, quem sabe, meu pai volte a ser um astronauta, rompendo a atmosfera e indo para o espaço vender bananas.

Bem, meu amigo. Agora que fiz o meu relato, que tal fazer o seu?

Um grande abraço do John Mix!

FIM

   

INTENÇÕES DO TEXTO

 Ao escrevermos O ASTRONAUTA QUE VENDE BANANAS, nossas intenções eram: 

1.      Elaborar um texto dirigido ao público de crianças cursando do Ensino Fundamental I.

2.       Levar a elas a noção de um texto-relato e seus princípios de começo-meio-e-fim;

3.      Para fixar que o texto trata-se de um relato, essa palavra aparece por várias vezes em seu decorrer;

4.      Usamos o relator - uma criança intencionalmente -, em primeira pessoa, visando dar uma visão de particularidade. Ou seja, que alguém está relatando a história de sua família, falando de uma terceira pessoa, "meu pai";

5.      O texto divide-se em oito pequenas partes, demonstrando à criança as funções dos subtítulos na organização dos acontecimentos, na sequência lógica do texto e na noção de tempo cronológico;

6.      Algumas frases se apresentam um pouco mais longas do que as curtas apresentadas nos livros propriamente infantis.

7.      Palavras e expressões não muito comuns ao universo da criança estão ao decorrer do relato, visando despertar no leitor uma vontade de ampliar o seu vocabulário. Para isto, temos duas sugestões de trabalho. Ou o texto poderá ser publicado com um glossário no final, ou a criança poderá ser estimulada a anotar as palavras desconhecidas, ensinadas depois a consultar um dicionário, o que lhe possibilitará o habito de lidar com o mesmo;

8.      São usadas palavras ligadas ao mundo espacial (tais como, astronauta, programas espaciais, NASA, foguete, satélites artificiais, atmosfera, orbita, terráquo), visando reforçar a linguagem e dar verossimilidade ao relato;

9.      Em seu contexto, há noções de alegria e orgulho, mas também de dificuldades e frustrações, oferecendo ao leitor um tema tão forte nos dias atuais: o desemprego e a necessidade de uma reciclagem profissional, onde muitas pessoas precisam mudar de atividades para continuarem ativas. E, muitas vezes, essas mudanças permitem descobrir novas alegrias e paz numa vida mais tranquila e calma.

10.  O menino relator por fim faz uma combinação de fantasia com a realidade, demonstrando que, por mais real que seja a vida, sempre haverá espaço para o sonho. 

São apenas algumas noções e intenções do texto que depois poderão ser trabalhadas pelos professores em sala de aula!

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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