19 - O PAI DA NOIVA

  No começo de noite, Adriana e Almir estão conversando abraçados no Bar 50!, quando Tônico Trazaqui entra com uma mala e passos largos, indo até eles.

- Pai, por que o senhor não me disse que viria à São Paulo? – Pergunta ela, surpresa.

- Precisamos conversar sério. Você pode nos dar licença, Almir.

- Com certeza, senhor Trazaqui – responde ele, afastando-se.

- Posso saber o que significa isto aqui? – Pergunta seu pai bravo, jogando a revista em cima do balcão.

  - Essa é a nova eu, papai. Ou melhor, pela primeira vez, estou sendo eu mesma!

- Você ficou maluca, menina? Jogar tudo para o alto o que construiu? Todo o estudo que lhe dei, seu diploma de advogada? A carreira e o prestígio que você conquistou ? Para quê? Para ser dona de uma espelunca como essa, tocar piano?

- Pois é, tudo que descreveu foi exatamente tudo que o senhor, meu casamento desfeito e a sociedade quis que eu fosse. Parabéns para todos, eu fui a moça direitinha que cumpriu tudo corretamente. Só que fui olhando para dentro e decidi que uma vida desconectada do meu verdadeiro ser, não vale a pena ser mais vivida. É melhor seguir meu coração e sonhos do que estar segura ou manter a ordem. 

- E você vai viver do que, Adriana?

- Tenho minhas economias, aplicações em ações, imóveis que fui comprando e alugando, este bar que já está dando lucro.

- Está vendo? Você é só mais uma riquinha brincando de ser rebelde sem causa!

- Muito pelo contrário, papai. Eu nunca estive tão lúcida do que quero para minha vida. Concordo que tenho uma situação financeira que me dá condições para dar esse salto na vida. Mas qualquer pessoa que esteja insatisfeita com sua vida, rica ou pobre, pode mudar sua realidade, desde que ela tenha objetivo, planejamento e, principalmente, que saia da zona de conforto e se coloque em movimento rumo a isto. Veja o caso do José Renato e do Almir, vão cursar faculdades com mais de cinquenta anos!

- Além de tudo, você está namorando o filho de ex-boias-frias da nossa fazenda.

- Não papai, eu não estou namorando o filho de ex-boias-frias. Estou namorando o homem que sempre gostei desde pequena e a vida está me dando esta nova chance. E por nada irei abrir mão do meu amor!

- Adriana, você realmente está disposta em levar tudo isto adiante?

- Sim, estou papai.

- Se der errado, não conte comigo.

- Com certeza, não precisarei do senhor...

Ele a olha fixo por alguns instantes e confessa-lhe:

- No fundo você é uma cabeça-dura e determinada como eu. Mesmo sendo contra, admiro você!

Adriana o abraça, dizendo-lhe:

- Vai papai, vai lá pra casa ficar um pouco com seus netos.

- Estou com a goela seca. Eu não posso nem tomar uma aqui no seu boteco? – Pergunta ele dando sua tradicional gargalhada.

O fazendeiro pega uma cerveja, dirige-se até Almir. Senta-se, coloca a garrafa em cima da mesa brincando de fazer uma pose séria, perguntando-lhe:

- Quais são suas intensões com minha filha?

* * *

Passado a fase de experiência, Morielle é efetivada no hospital. Resolve dar um passo a mais, alugando uma pequena casa perto de seu serviço, buscando novamente sua independência.

Ao contrário de muitas pessoas que em períodos de tristeza e desesperança é comum se distanciem dos familiares e amigos, para evitar os transtornos vindos com a meia-idade, ela está cada vez mais integrada ao grupo de seus colegas do hospital e fazendo novas amizades.

Yuri cada vez mais torna-se seu grande amigo. Juntos praticam corridas. E melhor do que isto. Começam a participar de campeonatos amadores regionais e a ganharem medalhas. Estão sempre animados nessas viagens.

Mantendo a vida social ativa e animada. Isso porque sair com quem gosta, também ajuda a liberar serotonina.

Morielle resolve se preparar mais para crescer dentro do hospital. Começa a fazer diversos cursos online que lhe ajuda a se renovar e a aprender novas tecnologias. 

Para muitos, esses novos aprendizados podem ser o necessário para lhe reinserir no mercado de trabalho.

PRÓXIMO CAPÍTULO

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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