Estava a chatice de sempre. Entre os jornalistas que cobriam a festa, Leandro notou Marion. Foi até ela.
– Poxa, que bom vê-la aqui, minha amiga.
– É, estou fazendo um free-lance. Daqui a pouco tenho que ir embora, senão perco o último ônibus. Moro longe.
– Fique como minha convidada. Depois a deixo em casa.
– Moro longe. Vou dar trabalho.
– Imagina. Nem pense nisso, com carro nada é longe. Por favor, dê-me o prazer de sua companhia nesta festa.
O tempo correu descontraído. Conversaram sobre várias coisas; ela foi apresentada aos colegas dele.
Leandro a levou embora. Realmente era longe. Parou em frente a uma velha pensão.
– É aqui que moro. É o máximo que posso pagar.
– E seus pais, Marion?
– Eles estão morando no interior. Eram contra o casamento que fiz. Nem imaginam a dificuldade que estou atravessando. Tenho vergonha de contar...
– Vou pedir um favor. Será que você pode me enviar o seu currículo por e-mail?
– Sim, envio. – Deu-lhe um beijo no rosto. – Leandro, hoje, quando você me chamou de minha amiga, foi muito importante para mim. Há muito tempo ninguém me tratava assim. Obrigada...
– Tenha certeza de que a chamei com sinceridade. Pode deixar. Qualquer dia desses, vou pegá-la para passear, jantar comigo.
No dia seguinte, na hora do almoço, Leandro resolveu dar uma volta a pé pelas redondezas da empresa. Sentou-se em uma praça, onde várias crianças brincavam, riam, corriam. Observou-as por um bom tempo. Suas fantasias voltaram a aflorar. Como seria ter tido um filho com Milena?
* * *
Após um dia de trabalho, Leandro chegou em casa. Milena o esperava ansiosa para lhe dar uma notícia:
– Amor, eu estou grávida. Você vai ser papai...
A alegria foi muito grande para ambos naquele momento.
A cada passo da gravidez, o bebê ia crescendo naquele ventre como se fosse uma planta. Veio o parto. Quando Leandro o viu pela primeira vez, seu filho, “com uma cara de joelho”, parecia lhe dizer: “Papai, cheguei...”.
Quanta alegria o filho, fruto do seu amor por Milena, trouxe àquele lar, frequentando colo por colo, dormindo embalado nos braços da mãe ou do pai; alimentando-se nos seios da mulher amada por ele. Mas, também, quanta preocupação, quanta dedicação nos momentos em que estava doentinho, com o casal passando horas ou noites inteiras ao seu lado torcendo pelo seu restabelecimento.
O seu desenvolvimento, as primeiras palavras, os primeiros passinhos mal ensaiados e os passeios, quando o menino, fascinado, pouco a pouco, descobria o mundo. Às vezes se fazia de difícil e dava trabalho para comer ou dormir. Os brinquedos espalhados pela casa e suas travessuras. Como era engraçado quando, indo passear na casa dos pais de Milena, arrancava as folhas das plantas de sua avó ou desmanchava todo o crochê que ela esquecia em cima do sofá. Rasgava o jornal e as revistas de seu avô. Mesmo assim, ele amava sair com o neto ao colo pelas ruas do bairro e outros passeios.
Havia dias que Leandro chegava em casa e Milena ia séria ao seu encontro, dizendo:
– Adivinha o que o seu filho aprontou?
E assim, entre alegrias e paz – mas também entre broncas e correções –, o filho foi caminhando...
Entrou para o parquinho; o seu primeiro uniforme; a lancheira e o ônibus escolar, no qual ele ia com toda aquela meninada. Era certeza a sujeira em que voltava no fim da tarde, trazendo um lindo sorriso no rosto! Quantas vezes chegou alegre, com a sua pasta de desenhos e as primeiras linhas mal traçadas, querendo mostrar para os pais e espalhando tudo pela sala.
Depois veio a entrada para a escola e toda a fase de alfabetização, quando Leandro e Milena faziam questão de olhar seus cadernos, elogiando o seu trabalho, mas, quando necessário, apontando os erros e ensinando o certo.
Das festinhas nas casas de seus amiguinhos, quando o casal ia levar e buscar. Já maior, descobriu os meninos e as brincadeiras de sua rua, dando trabalho para entrar e tomar banho e jantar. A bicicleta e as tardes que brincava junto com os pais na piscina do clube.
A sua entrada para o ginásio na adolescência e aquele monte de cadernos e livros que gostava de carregar nas mãos. Da calça jeans, do tênis e sua camisa para fora, muitas vezes maior do que ele. Surgiram novas gírias; ele não chamava os amigos de “bicho”, como o pai, e não era mais moda falar “tipo assim” como na época de sua mãe. Da sua turma, quando todos estudavam juntos em sua casa em época da prova ou para recuperar notas perdidas. Milena tinha prazer em servir lanche para eles.
De repente, o filho queria ficar até mais tarde na rua, pensando que já era um homem. Acabava com toda a sua mesada e sempre convencia a sua mãe a lhe dar mais dinheiro. Eram gostosos aqueles longos bate-papos, quando Leandro falava das coisas da vida e seu filho sempre lhe dava atenção.
Surgiu o seu primeiro amor que, embora tenha tentado esconder, seus pais notaram, pela mudança de atitude e humor. Até que um dia o jovem surpreendeu o casal, entrando em casa com uma desconhecida, dizendo:
– Pai, mãe, esta é a minha namorada!
Chegou o momento do ensino médio e com ele outra turma e outras aventuras. Quantas vezes, mesmo nunca deixando que ele percebesse, o casal ficou acordado e preocupado até seu filho chegar da rua. Enfim, a faculdade, o período de morar fora, significado de verdadeira liberdade. Após alguns anos, veio a emoção de sua formatura, o primeiro emprego, seu noivado, o casamento. Criou asas e voou rumo ao seu destino.
Com o tempo, uma das maiores recompensas na vida de Leandro e Milena. Seu filho e esposa já não iam visitá-los sozinhos. Entre as muitas emoções e alegrias que já deu aos seus pais, agora trazia em seu colo um dos maiores presentes que poderia lhes dar: o primeiro neto!!!