9 - UM DILEMA PROFISSIONAL

 

Os dias passam. Em uma tarde, durante o expediente, Murielli é chamada à sala de seu superior, que lhe comunica:

- Murielli, você sabe que a considero uma relações internacionais brilhante, altamente qualificada e dedicada aos seus deveres.

- Agradeço chefe, faço o que posso...

- Tenho um comunicado para premiar o seu talento. Abrirá daqui dois meses uma vaga na nossa matriz nos Estados Unidos. Você é a nossa escolhida para ocupá-la. Parabéns!

- Eu!? – É pega de surpresa.

- Sim, não é o que você sempre almejou? Então, agora essa é a sua grande oportunidade.

- Tenho um tempo para pensar?

- Mas pensei que você aceitaria de imediato!

- Sim, mas nesse momento estou com um problema pessoal para resolver. Por favor, chefe...

- Ok, você tem um mês e meio para me dar uma resposta. Caso positivo, você terá que se apresentar lá quinze dias após. Sei que sua resposta será sim.

Murielli sai da sala caminhando confusa pelo corredor. Está diante de um projeto de vida tão desejado, o que a motivou todo o tempo a se preparar, estudar, ter muita dedicação profissional para alcançá-lo. Só que agora há Henrique em sua vida, quem lhe faz feliz, completa-lhe e é seu projeto de vida constituir uma família com ele.

João aparece há sua frente, indagando ironicamente:

- Então, gostou da forcinha...?

- Não entendi a piada?

- Quem você acha que convenceu o chefe que você é a melhor pessoa para ocupar a vaga nos Estados Unidos? Você irá na frente. Logo eu também chego lá para sermos um casal feliz!!!

- Realmente, você não presta, João – diz ela, saindo irritada.

Após o almoço, durante um curto período de descanso, Murielli conta para Henrique o convite que recebeu.

- Você vai aceitar?

- Essa é a grande chance de minha vida. Mas não sei se aceitarei. Tenho um mês e meio para pensar. Se pelo menos você fosse comigo, Henrique, tudo ficaria mais fácil.

- O que vou fazer nos Estados Unidos, Murielli?

- O seu serviço aqui na empresa estar terminando. Depois você não tem nenhuma expectativa de emprego. Pelo menos lá, você poderá cursar uma boa universidade, fazer ótimos cursos de informática.

- Mas nem sei falar inglês.

- Isso não é problema. Pode começar a fazer um curso intensivo aqui, contar com minha ajuda. Depois lá, você pega o idioma rapidamente.

- Parece um lindo sonho, mas na realidade tenho minha mãe. Sou filho único, ela não tem mais ninguém. Não posso deixá-la sozinha aqui. Ainda mais agora que ela está muito doente.

- Havia me esquecido desse detalhe. Bem, independente de qualquer coisa, você aceita fazer o curso intensivo de inglês? Ele será fundamental para o seu vestibular.

- Aceito – responde em um sorriso sem graça, sentindo a ameaça de perdê-la.

* * *

Um mês passa. Em um café da manhã, Murielli conversa com seu irmão:

- Não sei, Marcos Antônio... O Henrique está diferente, distante, parece estar triste.

- Também o que você quer, minha irmã? A mãe dele cada vez mais enferma. Você, o único amor da vida dele chegando perto do momento de tomar uma decisão de viagem que pode separá-los.

- Realmente ele deve estar sofrendo calado. Mesmo assim, continua dedicado aos estudos, ao curso de inglês, ao objetivo de entrar na universidade pública. De minha parte estou dando todo o apoio que ele precisa, estudando junto para não deixá-lo desistir. Só que também está difícil. Estou cada dia mais perto do meu grande sonho de ir para os Estados Unidos. Por outro lado, está o único homem realmente sincero e puro que conheci na vida, que realmente eu gosto pra valer. Ainda mais agora que ele corre o risco de perder a mãe, única pessoa de sua família. Talvez serei a única pessoa que restará na vida de Henrique.

- Dê mais um pouco de tempo ao tempo, Murielli. Se vencermos as nossas ansiedades e angústias, tudo se resolve de maneira natural.

PRÓXIMO CAPÍTULO

Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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