Capítulo 15 - O MAIS IMPORTANTE CONCERTO DE RUBENS

  Rubens foi convidado para tocar em um luxuoso evento em uma casa cultural. Passou na casa de Yara para pegá-la, surpreendendo-se ao vê-la toda produzida e vestida socialmente de preto.

- Você está linda, Yara!

- Tenho que estar à altura para acompanhar um grande pianista! – Brincou ela sorrindo.

Na casa cultural, ao ser anunciado e subir ao palco, Rubens desejou pela primeira vez falar algumas palavras:

- Senhoras e senhores, peço licença, mas eu gostaria de dedicar a apresentação de hoje a uma pessoa muito especial que espalhou pelo Brasil e o mundo as sementes do movimento “Cristãos Sem Bandeiras”. Só que também, particularmente, é uma das pessoas mais importantes e influentes em minha vida. O concerto de hoje é para você, Yara!

Foi aplaudido. E naquela noite, Rubens tocou como nunca!


Àquela casa cultural era uma construção dos anos 1930, com um lindo solar na parte de cima. Uma noite de luar. Após a apresentação, eles foram para lá papear, assim como outras pessoas.

- Sabe Rubens, tenho parado para pensar em tudo que me aconteceu. Foi uma história linda. Só que tenho umas curiosidades. Lá no começo, quem será que mandava àquelas marmitas?

O pianista deu uma risadinha disfarçadamente. Ela sacou:

- Não me diga que era você, Rubens?

- Sim, era. Eu sempre tive economias no banco graças aos direitos autorais dos meus discos. Naquele momento era uma forma de ajudar como a Bíblia recomenda, “o que a mão direita dá, a esquerda não precisa saber”. Do mesmo jeito que todas as vezes que eu não comparecia às ações, era porque eu estava deprimido no meu quarto.

- Eu sei que existe toda uma questão médica e psicológica por trás. Porém a causa de depressão ou outras síndromes também é a desmotivação. Se o homem soubesse a missão humanitária que ele pode ter neste mundo, fortalecer-se-ia cada vez mais!

- É verdade, Yara.

- Outras vezes penso que àquela menina de rua que me pediu almoço, ou àquele senhor que levei à padaria, eram anjos que Deus usou para me despertar para missão que Ele requeria de mim. Hoje penso que minha parte já foi cumprida. Agora quero só continuar a ser uma simples pessoa e continuar com o meu simples serviço. Vou voltar a congregar em alguma igreja e esperar a próxima determinação Dele em minha vida! 

- Muito bom ouvir isto, Yara.

- Sabe Rubens, em cada época e lugar há crises e problemas particulares pelas quais Deus chama a Igreja à agir. O correto seria que, guiada pelo Espírito Santo, humilhada por sua própria cumplicidade, fosse instruída por todo o conhecimento acessível, procurando discernir a vontade de Deus, aprendendo e obedecendo nessas situações concretas. Apesar de tantas “bolhas” por aí, Deus criou os povos da terra para serem uma família universal. Em seu amor reconciliador, Ele deseja que superemos as barreiras entre irmãos, derrubando toda a forma de discriminação baseada em diferenças raciais ou étnicas, reais e imaginárias e principalmente de credos religiosos. A Igreja é chamada para trazer todos os homens para receberem e sustentarem um ou outro como pessoas em todas as relações da vida: em emprego, habitação, educação, lazer, casamento, família, comunhão e no exercício dos direitos políticos. Portanto, a Igreja em uma união de amor, deveria lutar pela abolição de toda discriminação daqueles que são ofendidos por isso. As mais diferentes igrejas, indivíduos, ou grupos de cristãos que excluem, dominam ou controlam seus companheiros, ainda que com sutileza, resistem ao Espírito Santo e trazem descréditos sobre a fé que professam.

- Yara, se me permite mudar de assunto, tenho algo para lhe contar. Quando fui para Ouro Preto, não era bem um concerto. Fui fazer um concurso para professor de piano na Universidade Federal. Não lhe contei antes porque eu tinha medo de não passar. Fui aprovado. Vou me mudar para lá em dois meses.

- Que tudo, meu amigo! – Disse ela sorrindo, mas sentindo um aperto no peito como quem perderia alguém importante em sua vida.

Rubens tímido, pediu-lhe:

- Eu nem sei como lhe dizer isto, preciso lhe fazer um pedido. Yara, você aceita se casar comigo?

A moça foi pega de surpresa. Ao mesmo tempo que ensaiava um sorriso, seu coração batia fortemente de alegria. Permaneceu com aquelas batidas segurando a emoção enquanto ele não parava de falar rápido pelo nervosismo do momento:

- Eu sei que sou mais velho do que você. Sou negro, nem um galã. Só que tenho uma profissão, posso lhe oferecer um lar de paz com comida à mesa. Você pode ir como minha esposa para Minas. Poderá voltar a estudar e ingressar em uma faculdade de veterinária, desenvolver-se na carreira que sempre sonhou. Podemos formar uma linda família. Serei seu companheiro para ir aos cultos. E, sobretudo isso que lhe falei Yara, o mais importante é que te amo como nunca amei ninguém... É um amor puro, gostoso, calmo, como nunca eu havia sentido.

Yara o interrompeu, dizendo com ternura:

- Se tem uma coisa que aprendi, Rubens, é que diante de uma situação se o nosso coração bate com muita alegria, é porque está sendo aprovada por Deus. Sim, eu me caso com você e lhe farei um marido muito feliz e uma esposa orgulhosa do homem que tem!

E se beijaram pela primeira vez!

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Emílio Figueira - Escritor

Por causa de uma asfixia durante o parto, Emílio Figueira adquiriu paralisia cerebral em 1969, ficando com sequelas na fala e movimentos. Nunca se deixou abater por sua deficiência motora e vive intensamente inúmeras possibilidades. Nas artes, no jornalismo, autor de uma vasta produção científica, é psicólogo, psicanalista, teólogo independente. Como escritor é dono de uma variada obra em livros impressos e digitais, passando de noventa títulos lançados. Hoje com cinco graduações e dois doutorados, Figueira foi professor e conferencista de pós-graduação, principalmente de temas que envolvem a Educação Inclusiva. Atualmente dedica-se a Escrever Literatura e Roteiros e projetos audiovisuais.

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